Não esqueçam Sahar Khodayari

Em 2006 o cineasta iraniano Jafar Panahi realizou o filme Offside, que retratava a proibição das mulheres em assistir futebol no Irão....

Em 2006 o cineasta iraniano Jafar Panahi realizou o filme Offside, que retratava a proibição das mulheres em assistir futebol no Irão. No filme diversas raparigas, aficionadas pelo jogo, arranjavam artimanhas para ultrapassarem a segurança e ficarem perdidas nas bancadas, em prol de uma paixão. Quando apanhadas eram presas em celas no estádio, sem jogo, só com paredes e lamentos por serem mulheres em países onde a religião leva à cegueira e é travão da liberdade, e mesmo assim sorriam e entusiasmavam-se com os gritos dos homens, como se fossem mil locutores sem discurso. Quase 13 anos depois, esta semana, chega-nos mais um relato trágico vindo do Irão. Desta vez sem ficção à mistura, só realidade num choque sem par. Em Teerão, a jovem Sahar Khodayari, de 29 anos, imolou-se pelo fogo, após ser confirmada a pena de prisão por 1 ano, por ter assistido ao vivo a um jogo do seu clube, o Esteghlal. A paixão pelo futebol, o querer ver e sentir o espetáculo, o grito do golo, a adrenalina da expectativa, do zizezague na linha, do corte que corta a respiração não lhe era permitido, porque era adepta no pais errado!!!

Certamente que a culpa não é de Sahar, que agastada pelas represálias, seja no estádio ou fora dele, levou ao extremo a decisão, esperando que nalgum outro lugar, possa ver descansada , o que na Terra não lhe permitem. Sei lá se isso acontecerá, mas o que sei é que este é mais um caso de um pensamento grotesco, que proíbe mulheres de assistir aos jogos, com a premissa de que a sua presença interfere no rendimento desportivo. Altera a concentração dos homens que expõem joelhos, canelas e braços e que por isso despertam um desejo ardente para os olhos envenenados das raparigas. É a bola senhores, é a bola que as move, que as apaixona, a elas e a eles.

Pena que não vá ser a “rapariga azul”, que vá mudar o mundo e aproxime os tempos. O futebol é o reflexo da sociedade que vive em diferentes eras, e neste caso de um país como os vizinhos, segregado por crenças e tribos religiosas que prevalecem ao próprio poder politico. Cabe a nós, o que cá andam uns séculos mais adiante, não deixar cair em saco roto as histórias das Sahar que são Inzaghis, vivendo na linha do fora do jogo.


Bruno

You Might Also Like

0 comentários