Iker Casillas e a Liga NOS

Recordo-me com nostalgia de um Belga que apareceu em Portugal, em plena década de 90. Eu era novo demais para saber de onde vinha, porque v...

Recordo-me com nostalgia de um Belga que apareceu em Portugal, em plena década de 90. Eu era novo demais para saber de onde vinha, porque vinha ou que real importância trazia. Recordo apenas as suas exibições seguras e a fantástica capacidade de banalizar o impossível. Diziam ser grande demais para uma baliza portuguesa. O Sport Lisboa e Benfica, naquele tempo, não estava ao seu nível, mas Preud´Homme identificava-se com a real dimensão do clube da Luz. Na minha mente, ser guarda redes era ser assim, com aquele jeito seguro e ágil, experiente e confiante.
Cresci nessa década e em 90´s o futebol nasceu em mim. A minha maior paixão. Em 1999 chorei e solucei por uma das maiores injustiças do futebol: a final da Champions desse ano. Não que o meu clube ou a minha cor estivessem em campo, apenas porque via o jogo com o fervor de um verdadeiro adepto. E nunca pensei que 3 minutos bastassem para mudar um jogo, um rumo e uma história. O Bayern perdeu aquela UEFA Champions League da mesma forma que o Manchester United a ganhou: inexplicavelmente. E daquele jogo recordo-me de um gigante equipado de amarelo, ou verde fluorescente, que diziam ser o melhor do mundo, e que aquele troféu comprovava. Via-o a espaços e sempre o tive como o herói das balizas. Eis que, um dia, assim do nada, daquele jeito inexplicável, esse dinamarquês enorme em prestígio e talento, assina pelo Sporting Clube de Portugal e surge como a figura do nosso campeonato. Para mim, era o acreditar que o futebol dos heróis podia ser o nosso. E vê-lo jogar com a camisola do Sporting (que não era campeão há 18 anos) era saber que tinha alguém capaz de mostrar o meu orgulho a todo o mundo. Foi campeão. Chegou, viu e venceu. Ainda hoje o recordo, com saudade.
Hoje, no defeso de 2015, o Porto contrata o maior guarda-redes que acompanhei. Para mim, Casillas simboliza uma conquista de todos aqueles que amam o futebol e adoram a posição mais indesejada. Casillas mostrou que o talento não tem idade e que o mito da experiência e mentalidade não tem de ser proporcional ao BI. Casillas tinha um talento precoce, uma maturidade notória e uma personalidade maior do que realmente transparecia. Tinha aquilo que os outros grandes guarda redes ganharam com o tempo: a capacidade de fazer o impossível. Passou 25 anos ligado ao maior clube do mundo, 16 dos quais enquanto profissional. Sobreviveu a estrelas, viveu momentos de glória (imensos) e deu a cara nalguns dos anos mais difíceis do clube. Foi capitão de um colosso, conquistou todos os títulos pela sua selecção e chamavam-lhe San iker. Parecia-me ser um daqueles casamentos para a vida, uma das histórias de amor mais bonitas do futebol. Claro que, como todo o amor, viveu altos e baixos.
De repente, e com qualquer baliza do mundo à sua escolha, transforma-se em jogador do FC Porto e pisará os palcos portugueses. É certo que as últimas épocas foram marcadas por momentos de menor fulgor, mas sejamos sinceros: ser guarda redes do Real Madrid C.F. é incomparável com qualquer outra baliza. E podia já não fazer o impossível com a mesma regularidade de outros tempos, mas a mediocridade do espanhol é o sonho da maioria. Iker é um dos Senhores do futebol, figura de proa da galeria da Liga Portuguesa e, indiscutivelmente, um dos imortais da história do meu desporto preferido.
Com Casillas, a Liga NOS volta a ganhar dimensão e qualquer adepto acreditará que não há impossíveis no mundo do futebol.
Obrigado por teres vindo, Iker. Será um prazer ter-te por cá.

Tiago Carvalho.


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