E agora, Benfica?
17:09:00O Sporting já não vencia na luz há 8 anos mas quando o fez, fez em
grande estilo! A vitória de ontem deixa um profundo pesar nos campeões
nacionais, não foi só perder contra o rival de sempre, foi perder contra
o ex treinador, aquele que mudou o paradigma do futebol nacional e com o
qual o SLB não se esforçou para renovar o contrato. Mas se para Jesus é
fácil dar o braço a torcer e dizer que merece, pior é perder para o
presidente rival que tudo tem feito para criar polémica e incendiar
rivalidades!
O péssimo arranque de época
com a paupérrima exibição na supertaça parecia ser história do passado e
a derrota com o Arouca não parecia ser mais do que um acidente de
percurso. O jogo no Dragão deixou uma imagem de um Benfica diferente,
que perdeu o jogo num desafio em que a balança podia ter caído para o
seu lado. Depois veio a fantástica vitória em Madrid e tudo parecia
começar a fazer sentido! O jogo de ontem era o momento perfeito para
mostrar que o Benfica estava mais forte e que não havia fantasma de
Jesus. Pois bem, a lei de Murphy apareceu de novo: "Qualquer coisa que
possa correr mal, ocorrerá mal, no pior momento possível".
Erros e um profundo vazio, é a crónica do jogo do lado benfiquista.
Dois pormenores saltam à vista, o Benfica está sem laterais e André
Almeida não é a solução ideal para jogar ao lado de Samaris! Os dois
laterais de ontem têm provas dadas, mas estão ambos num mau momento de
forma! Ontem Eliseu não tinha nenhum extremo para marcar e não conseguiu
aproveitar o flanco para desequilibrar no ataque e apoiar Gaitán! Mas
nem creio que tenha sido pelo açoriano o descalabro, e foi o bote
expiatório ao intervalo, sem ter muita responsabilidade no assunto. Já
Sílvio é um dos protagonistas do filme de terror, coincidência ou não,
os 3 golos do Sporting vêm do seu lado. O lateral direito pareceu
cansado logo desde início. Da sua responsabilidade estava a marcação a
Bryan Ruiz, um talentoso pé esquerdo cuja velocidade não é ponto forte,
ainda assim Sílvio não deu conta do recado. O 3º golo é o paradigma
disto mesmo, mal posicionado e com um tempo de reacção péssimo, permitiu
a Ruiz aparecer sozinho para finalizar! É sempre difícil provar isto,
mas com Nelson Semedo dificilmente o 3° golo teria acontecido. Olhando
agora para um 3º réu, André Almeida. Depois do dragão e o jogo em
Madrid, foi segurando o lugar sem muito deslumbre, ontem percebeu-se que
não tem unhas para o meio campo. Apesar da entrega e boa condição
física, falta qualidade de passe ao português, contra o inteligente meio
campo do Sporting foi evidente a lacuna. Para culminar o olhar ao jogo,
palavra sobre o treinador: acreditou na equipa que venceu em Madrid, e
posto isto, não me parece plausível considerar que fosse uma má ideia.
Contudo, após os 20 minutos a perder dois zero, sem o Sporting ter
atacado muito - é um facto - pecou em não reagir. Segundo jogo contra
Jesus, segunda vez a ser derrotado sem espinhas. Era preciso uma carta
na manga, uma forma de alterar o paradigma do jogo e passar uma mensagem
para o campo, de que ainda era possível! Deixou andar, acreditou num
milagre de reviravolta através do espírito santo, mas o milagre foi não
ter sofrido mais para lá de três. Ao intervalo a saída de Eliseu não se
percebe, opta por colocar André Almeida, já amarelado, na lateral - para
tapar o quê? Para atacar como? A entrada de Fejsa para segurar o
resultado? Por incrível que pareça, o SLB ainda atacou menos na segunda
parte que na primeira. Os cruzamentos para os centrais e para Patrício,
como na primeira parte, nem esses existiram na segunda! Há que
reconhecer mérito ao adversário, com um plano de jogo expectável tornou o
Benfica apático, deixou-o sem capacidade de resposta, marcou e geriu,
felizmente não teve o killer instinct, arrisco-me a dizer que se ontem
fosse o Bayern (ou o Porto de Portugal e não o de Lopetegui) pela
frente, o Benfica tinha passado por um verdadeiro vendaval!
Está
criada uma tendência, o Benfica fez até agora 3 clássicos, perdeu os 3!
Dois contra o Sporting, de forma inequívoca, e no desporto são mais os
exemplos que quando começa assim, a época não muda muito de figura, pelo
que a eliminatória da taça estará mais perto de um "não há duas sem
três" do que "à terceira é de vez".
No imediato, o
Benfica tem rapidamente de achar um parceiro para Samaris, entre Pizzi,
Talisca, André Almeida e Fejsa está difícil de arranjar solução! A todos
falta alguma coisa para ser o encaixe perfeito, na sombra que Enzo
deixou na luz. Pizzi, que o ano passado entrou bem no onze, esteve em
foco numa equipa rotinada Este ano, com a equipa à procura de rumo, tem
estado uns furos abaixo do esperado. Ainda assim, dos quatro,
provavelmente passará por ele a tentativa de ganhar maior criatividade a
meio campo e um melhor apoio aos homens da frente. Uma solução a pensar
mais a longo prazo, poderá passar por Renato Sanches, um médio de
recorte técnico apreciável, com bom poder de choque, apesar da baixa
envergadura - a fazer lembrar Edgar Davids. Pode ser importante ir
lançando o Renato em jogos de menor fulgor. Quanto a Cristante, não
acredito que seja aposta, o italiano nem no banco tem aparecido, a
velocidade com que joga deverá ser o maior handicap do jovem médio,
apesar da boa capacidade de passe que apresentou o ano passado, quando
teve oportunidades. Principalmente no jogo directo, a sua aposta creio
que fazia mais sentido para ser o primeiro médio e dar a liberdade do
apoio ofensivo a Samaris.
André Almeida tem de ir para lateral
direito (pelo menos até ao regresso do Nelson), onde o passe não é tão
decisivo e onde se consegue rentabilizar melhor a capacidade de marcação
e jogo físico do jogador. Mas mais que mudar jogadores e peças, é
preciso a equipa saber jogar em posse e não só em transições ofensivas
(as defensivas são um desastre), já se percebeu que a equipa sente-se
mais confortável a jogar mais recuada e apostar na velocidade dos
extremos e no primeiro toque de Jonas, mas em 90% dos jogos o Benfica
tem de assumir o jogo e as linhas recuadas estão do outro lado. Ontem o
Sporting deixou o Benfica atacar e sentiu-se que a equipa não sabia
construir, cruzava sem nexo o que fazia parecer que a bola tinha íman
para Patrício e companhia. Se contra equipas de menor poderio uma bola
destas acabará por resultar, nestes jogos é exigido melhor definição e
um outro patamar de jogo.
A equipa tentará reagir
de imediato, e a qualidade está lá, no futebol o tempo é algo raro e
este Benfica precisa de tempo, começo a perceber que vai ser uma época
difícil, o tri provavelmente está agora ao nível do jogo de ontem, ao
intervalo - só com um milagre. Mas isso não invalida perder a fé no
projecto, na equipa e no treinador. Jogar com jovens e prata da casa não
é desculpa, se eles estão lá é porque têm capacidade para tal e para o
imediato! Quem está no Benfica está para ganhar, já não há Jesus mas a
vontade de vencer sempre veio para ficar. Sei que não vai ser assim
todas as épocas e que o resultado não vai cair do céu apenas com crenças
e palavras, mas pelas ultimas épocas desportivas, em Portugal (futebol
sénior, formação e modalidades amadoras), estou convicto de que há um
caminho e se sabe o que se anda a fazer. E que no fim das contas vamos
ganhar mais vezes que os outros, afinal é esse o nosso destino.
Bruno Nunes
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