Era obrigatório não vacilar, agarrar a oportunidade e não tremer. A Dinamarca não é nada do outro mundo, mas aos nossos olhos tem sido um adversário duro de roer. Mas, ainda que a custo, rói-se, mastiga-se e deita-se fora. A França era impreterível, por tudo o que representa. Somos um povo intimamente ligado a França, onde somos muitos e onde vive quem nunca nos esqueceu. Quem é português como nós. França, desde 96, foi a única fase final que falhámos. Um Mundial visto pela tv. Agora, agarrem-nos, estamos de volta. França é um fantasma que continuamos temer, mas somos corajosos o suficiente para continuar a tentar. Por tudo isto, era obrigatório ir. E vamos.
Era tão necessário pontuar, que ganhámos,1-0, por João Moutinho, na segunda parte. Um jogo mediano de uma equipa que nunca deslumbrou. Diria mesmo que não sabe deslumbrar. "Ganhar é jogar bem", diz Fernando Santos. Verdade, mas não certeza absoluta. Portugal (Seleções de Portugal) consegue 6 vitórias seguidas. Um feito bonito e revelador de competência. Com mais ou menos sofrimento, com mais ou menos qualidade, conquistámos a vitória e não vacilámos. Tudo isto começou tão mal (com derrota em casa frente à Albânia, ainda com Paulo Bento) que parecia pouco provável acabar bem e a tempo. Como disse Cristiano Ronaldo, figura maior da nossa armada, desta vez não precisamos de calculadora. E o orgulho é grande, a sensação de dever cumprido, essa, é inigualável. Jogar bonito não é para nós. "Apenas" ganhamos.
Hoje tivemos uma exibição competente, obreira, corajosa e suada. Nada de lances brilhantes, futebol espectáculo ou pura magia. Fomos responsáveis e cumpridores. Aquele miúdo chamado Danilo foi um muro, Tiago é um caso inexplicável - Como é possível alguém, que já não caminha para novo, ser tão consistente em alta competição? Ora em Madrid, ora por Portugal, não vira a cara à luta e não perde qualidade! Gosto de ver Portugal com Fábio Coentrão a lateral esquerdo, mesmo sem estar na sua melhor forma. Ronaldo é sempre Ronaldo, arrasta meia equipa (e umas quantas preces) consigo. Um Bernardo Silva talentoso e inspirado dá sempre um jeitão!
Mas, atenção, agora que já lá estamos, que tal pensar nisto: Que dupla de centrais é esta, Fernando Santos? A classe de Ricardo Carvalho tem de prestar contas ao BI (37 anos) e o experiente Bruno Alves (33 anos) parece ter 20 anos a mais que o seu colega de eixo. Tudo bem que há Pepe (32 anos), mas até este não consegue fugir ao tempo. Nós estamos lá, mas o Europeu é só para o ano...
Cumprimos, fomos guerreiros, como aquele estádio pede que sejamos. Fomos certinhos e competentes, astutos e unidos. Temos lacunas? Sem dúvida, mas quem não as tem? Podíamos jogar melhor? Claro, é evidente para quem acompanha Portugal, jogo após jogo. Mas melhoraremos, acredito. Só podemos melhorar.
O que importa é que já estamos em França e com toda a tranquilidade. Há orgulho na nossa bandeira, um pouco por todo o mundo, com epicentro neste nosso rectângulo à beira mar plantado.
PS - Aposto que, em França, já há quem faça planos e grite bem alto que é Português! E isso, meus senhores, isso é indescritível.
Tiago Carvalho.
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