Brasileirão: as promessas de um futebol com sotaque

Para nós, europeus, o futebol brasileiro é um estilo diferente do que semanalmente - quase de modo diário e ano após ano - nos entra pela te...

Para nós, europeus, o futebol brasileiro é um estilo diferente do que semanalmente - quase de modo diário e ano após ano - nos entra pela televisão. E para gostar do Brasileirão temos forçosamente de deixar estigmas e preconceitos do lado de fora. Vejam pelo prazer de quem quer saber mais sobre futebol, ver a essência do jogo e o diamante em bruto. Acreditem que depois de o fazerem ficarão fãs. A matéria prima é incrivelmente rica e o país sabe disso. Diríamos mesmo que incentiva esse surgimento de novos craques. O futebol brasileiro é essencialmente dos brasileiros e para os brasileiros. É da brasileiragem, da malandragem, do drible, da caneta, do acrobático e da cavadinha. É o futebol da qualidade técnica por entre o ritmo mais pausado. É onde o inesperado acontece até mesmo no jogo mais previsível. É o erro táctico ignorado pela bola no ângulo. É, com grande grau de probabilidade, o começo do craque de amanhã.

Posto isto, a Gola chama a atenção, neste primeiro artigo, para 3 jovens craques que, dentro do que temos visto, nos têm conquistado.


Douglas Luiz:

Começou o ano passado na Série B ao serviço do Vasco e fez logo uma pintura digna de um grande artista. Este ano assume o meio do Vasco da Gama na Serie A e joga com uma maturidade notória. Embora tudo isso, tem meros 19 anos. Mas é a relação de Douglas Luiz com a bola que cativa. Sendo um jogador franzino, sem grande dimensão física, vinga-se na qualidade do passe, no toque da bola, desde a sua recepção até ao passe longo. Joga de cabeça levantada e tem um sentido de baliza muito forte - às vezes até exagerado, diga-se. A fortíssima meia distância é uma qualidade que caberá ao garoto geri-la da melhor forma, com conta peso e medida. Por tudo isto, o miúdo enche um meio campo e é, de facto, quem assume o jogo, quem o pensa e desenha. Quando a obra nasce normalmente é ele o seu criador. E se não for o criador, acreditem, estará empenhado em ser o homem da estocada final.



Calazans:

Acabadinho de fazer 21 anos e dono de um baixo centro de gravidade, o jogador brasileiro de nome meio estranho enche o corredor por completo. Calazans é daqueles que tem uma aceleração de fazer inveja a qualquer adversário e que conjuga a imprevisibilidade com a precisão do toque na bola. O seu pé parece não precisar de encostar na totalidade para o toque no esférico satisfazer qualquer treinador. E encostado à linha o jovem descobre espaços, deixa adversários para trás e serve com grande rigor os colegas na área. Um dos jovens prodígios do Flu encaixa que nem uma luva neste estilo de jogo sul americano, tornando-se dono e senhor do corredor esquerdo (preferencialmente). Caberá ao jovem ala dosear o seu futebol vertiginoso com o rigor da cultura táctica. Mas isso o futuro (e talvez outras paragens) encarregar-se-á de ensinar.


Por fim,

Vinícius Júnior:

Não é fácil singrar no mundo da bola. Não é fácil, ano após ano, estar lá em cima e ser dono e senhor de um desporto que encanta o mundo. Vinicius Junior deve saber disso e lembrar-se de tal lição todo os santos dias. É que o "moleque" tem 16 anos, subiu agora da base, está a começar a jogar no 11 do Fla e apareceu ao mais alto nível no Sul americano sub 17! Começou tudo tão rápido e foi tudo tão perfeito. Mas se podia ser ainda melhor? Podia. E assim foi. O Real Madrid chegou e pagou qualquer coisa como cerca de 45 Milhões de Euros pelo rapaz!! Uma loucura que o torna, indubitavelmente, uma das maiores promessas mundiais

Mas o que o Real viu nele? O Real viu aquilo que perdeu há uns anos atrás, quando um garoto chamado Neymar aparecia, encantava, dominava e fazia gato sapato de um campeonato brasileiro. Hoje está no Barça e o tempo não apaga tamanha perda. E não é que Vinícius parece ter no sangue essa vontade de desafiar o mundo, de deambular, sentar adversários e resolver encontros? Ainda é jovem e pouco mostrou, é certo, mas do pouco que tem trazido deixa água na boca. Trata-se de um extremo recheado de técnica e irreverência, que assume jogo, gosta de ter bola no pé e partir para cima. Um miúdo que, talvez fruto da sua imaturidade, não teme as consequências do erro. Ainda não tem duas mãos cheias de jogos na primeira equipa do Flamengo (o clube com mais adeptos no Brasil) mas promete pegar de estaca.

Ficará emprestado até ao Verão de 2018. Aproveitará para ganhar calo, evoluir e aperfeiçoar-se. Pode errar porque está no tempo para isso. O essencial é aprender com os erros e reduzir as repetições. Depois, quando chegar à Europa, aí sim, será lapidado. Então, o que há a apontar a um miúdo de 16 anos?

Não te acomodes, moleque! E aproveita bem, pois o comboio do sonho só costuma passar uma vez!


Atenção, acabamos por deixar bem claro que, por motivos profissionais, pessoais e também continentais (um fuso horário europeu bem diferente do sul americano) não conseguimos acompanhar todos os jogos com o máximo rigor possível e da forma como gostaríamos. Ainda assim, procuramos ver, seguir e acompanhar o quanto nos é possível e num binómio rigor-prazer.

RC
Tiago Carvalho

You Might Also Like

0 comentários