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Lloris ao Raio X - os novos erros dos velhos guarda redes
12:52:00
O futebol acaba no golo e o golo é a alegria da multidão que o faz. No meio do suor, da luta, do talento e do empenho, há um vilão, um mal-amado, o isolado homem sob a trave. O anti-Cristo da bola. Aquele que não é "jogador" ou "jogador de campo". É guarda redes.
Ao longo da história o jogo foi mudando (e de que maneira) e com ele mudou-se o estilo e a exigência. Os pés tinham de sair do chão, as mãos tinham de agarrar a bola e o voo tornou-se requisito mínimo. Dentro dos postes tinham de ser ágeis, inteligentes, de reflexos notáveis e posicionamento correcto. Tinham de ler o adversário, a bola e o lance. Tinham de tomar a decisão mais importante da sua vida numa fracção de segundos, porque a vida do guarda redes depende de cada lance de cada jogo. Um guarda redes morre ao domingo, dizem. Não podiam ter escrito maior verdade.
Hoje trago-vos dois lances do espectacular Lloris. O primeiro parece de fácil e intuitiva análise: o herói! Um penalti defendido aos 90`que segurou o pontinho.
Vamos lá esmiuçar um simples penalti, aquele momento que, para o comum adepto, é a fracção de segundo em que o redes escolhe um lado, talvez o seu melhor, e se atira na esperança que tenha feito a escolha certa. É quase isso - foi assim, em tempos - mas o futebol mudou. Tudo mudou. Agora nada é fruto do acaso.
Aubameyang tinha batido os seus últimos 5 penaltis desta forma: 3 para o seu lado direito, dos quais falhara um, e dois para o seu lado esquerdo. Contudo, se o lado direito dava-lhe o desconforto de já ter sido "adivinhado" e defendido, o esquerdo, pouco puxado e perto da zona central revelava-se triunfante. Eis a escolha:
O gabonês partiu para a bola e escolheu o seu lado glorioso, aquele que Lloris, precisamente, também escolheu. Sorte do francês? Não. É o exemplo da leitura perfeita do lance.
Hugo Lloris aguentou até ao limite para revelar o lado. Deixou a bola partir para atacá-la. Causou insegurança no batedor e criou as condições ideais para o sucesso: se a bola não costuma ir tão puxada ao canto, o tempo de reacção bastava. E bastou. A bola não foi puxada ao canto (como nunca foi para aquele lado - lembram-se do gráfico de cima?) e o guardião estava lá. Coincidência?Trabalho.
Mas... há sempre um mas quando falamos do guarda redes.
Aos 15 minutos de jogo o Tottenham já perdia, fruto de um erro individual de Davinson Sanchez que se tenta antecipar, falhando o cabeceamento e deixando a equipa com uma bola em profundidade nas costas e sem possibilidade de controlar nada. Originou-se uma situação de 1x1 com o guarda redes.
O problema é que Lloris fica na toca! Na sua zona de conforto, sem controlar a profundidade, sem fazer o jogo harmonioso que devia ter feito: jogar mais fora, encurtar os espaços e evitar o enorme distanciamento existente entre ele e a sua linha defensiva.
Lloris está demasiado atrás, dá tempo para o avançado correr, chegar à bola, controlá-la, conduzí-la e levantar a cabeça para tomar a decisão na hora da verdade. Ao não conseguir jogar fora da sua zona de conforto ficou exposto, vulnerável. Foi facilmente batido. São aqueles pormenores que, no futebol moderno, têm de ser meticulosamente treinados e aplicados, sob pena de acabarem em golo. Tu precisas deles e eles precisam de ti: a equipa como um todo, compacta entre sectores.
Lloris fica até à última dentro da pequena área - só aqui, com o adversário praticamente dentro de área, se vê o guardião a sair de baixo dos postes! Abordou o lance tarde demais. |
O gaulês, campeão do mundo, enquanto conceito secular de guarda redes, é dos melhores que há. Para os vanguardistas, tem ainda de polir arestas importantíssimas. É que este nosso futebol mudou, é cada vez mais meticuloso e exigente. Somos chatos e picuinhas!
A nova era exige a perfeição, já não chega ser tudo o que um guarda redes tem sido. Caso contrário, morrem a cada domingo.
Terá o francês sido vilão ou herói?
Escolham, há Hugo Lloris para todos os gostos.
Tiago
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