15 anos, mil emoções.

Nunca tínhamos tido aquela festa em casa, de porta aberta e sorriso no rosto. Cada rua era um estádio e cada janela uma bandeira. Fomos sol,...

Nunca tínhamos tido aquela festa em casa, de porta aberta e sorriso no rosto. Cada rua era um estádio e cada janela uma bandeira. Fomos sol, bola, gente e futebol. Em cada português havia uma crença, uma reza e aquela fome que ninguém podia matar...

Fomos tão bons anfitriões que perdemos na estreia, perante aquela maldita Grécia fechada, lutadora e calculista. Um golpe que veio não sabemos bem de onde nem como. Foi inesperado e doloroso, mas, a custo, soubemos emendar.

Chegámos à final com vitórias épicas, momentos de ouro e histórias para mais tarde recordar. Não esqueceremos o golo do Nuno Gomes ao Casillas, ou o empate sofrido com a Inglaterra, depois de um golaço de Rui Costa. Como se não bastasse, Postiga faz um "Panenka" e aquele louco Ricardo defende sem luvas... e marca a seguir.

Eusébio chorou, Perestrelo perdeu a voz e a Luz ia abaixo em puro êxtase. O nosso Hino nunca se ouviu tão alto e tão longe. Era a catarse futebolística em tons lusitanos.

Depois, em Alvalade, o prodígio Ronaldo marcou e coube a Maniche fazer um dos golos mais incríveis de sempre. Se o ângulo já era reduzido, na baliza ainda morava o gigante Van der Saar, Impressionante, indescritível, emocionante. O Olimpo a um jogo de distância.

Na primeira final da nossa história, saía-nos aquela Grécia da estreia. Um futebol mastigado, cinzento, cínico e clínico. Reinava a confiança da memória curta e de quem não teme ninguém. Um ligeiro desprezo de quem despachou Espanha, Inglaterra e Holanda.

Um erro.
E tudo acabou como começou.



Há 15 anos chorámos oceanos de revolta. Afundávamos a história mais bonita até então vivida. Perguntávamos aos céus se algum dia chegaria a nossa hora.

Vivemos tudo naquele verão quente de 2004: criaram-se deuses, caíram deuses, viveu-se na tensão permanente e tudo terminou num final infeliz e trágico. Expurgaram-se sentimentos inexplicáveis e incontroláveis. Aprendemos, da pior forma, o que é uma tragédia.

Tiago

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