Coisas do Futebol: Baresi e o dia em que perdeu o mundo

Neste primeiro "Coisas do Futebol" viajamos até ao verão de 1994, onde o país do  soccer recebia um   Brasil x Itália numa luta a...

Neste primeiro "Coisas do Futebol" viajamos até ao verão de 1994, onde o país do soccer recebia um Brasil x Itália numa luta acérrima por (mais) um Campeonato do Mundo. Era o topo do mundo, a magia Canarinha frente ao velho rigor da Squadra Azzurra.

Em campo havia o capitão Baresi e torna-se difícil explicar quem é o Senhor Franco Baresi. O defesa italiano do AC Milan durante 20 anos, uma carreira de trabalho e entrega. Estreou-se aos 17 e tornou-se capitão aos 22 anos. Viu o Milan cair em desgraça e levou-o até ao topo da Europa. Foi, em 1999, eleito o jogador do século pelo clube milanês.

Fez da mítica camisola a sua pele e, à boa maneira italiana, mostrou que quem joga atrás destrói sonhos mas constrói resultados

Regressando àquele 17 de Julho, centramo-nos no capitão italiano e nos seus 34 anos. Ele sabia que a idade não perdoava e aquela era a última oportunidade de jogar para erguer um campeonato do mundo - até tinha feito parte da equipa campeã do mundo em 1982, em Espanha, mas enquanto jovem suplente. Em 1990, em casa, comandou a selecção italiana que acabou por cair nas meias finais, perante a Argentina de Maradona. Agora, em 1994, o central italiano jogava a sua última cartada para colocar a Itália como dona e senhora do mundo.

Aquele Mundial era a última oportunidade do italiano levantar o seu troféu, o maior de todos. Era também a prova maior da superação de qualquer atleta. Quis o azar que no jogo de abertura se lesionasse com alguma gravidade no joelho. Realizou uma artroscopia e parecia ser o ponto final no sonho. Todavia, numa recuperação surpreendente, ainda que não a 100%, Baresi regressou para a final, frente ao todo poderoso Brasil de Romário.

"foi a marcação mais implacável que já sofri" - disse o baixinho diabólico, Romário.

Uma exibição que mostrou quem sempre foi Baresi: duro na marcação, capaz de dividir todo e qualquer duelo, um leitor exímio do jogo e a explicação da importância da figura de um líbero nos tempos em que o futebol se jogava assim. Varria tudo, socorria todos, tornava-se, sozinho, uma mão cheia deles. Preenchia o campo. Mas, não era só isso: os seus desarmes também coincidiam com a forma elegante como sabia sair a jogar, como dava depois de roubar, como se aventurava em terrenos que normalmente não pertenciam à gente lá de trás. 

O "novo Beckenbauer".

Naquele dia, Baresi deu tudo o que tinha, fez tudo o que pôde. Deixou o corpo, a alma e o coração em campo. Levou o jogo para penaltis e falhou um deles. Chorou mais do que sangue.

Lá se foram os sonhos.

Roberto Baggio viu a taça fugir por cima daquela barra e a Itália voltava a cair nas penalidades. 

O capitão perdia o mundo.

a dor do fracasso
Para a história, mais do que os 6 Scudettos, 4 Supertaças Italianas, 3 Ligas dos Campeões, 3 Supertaças Europeias, 2 Taças Inter Continentais e 1 Campeonato do Mundo de 1982, fica o jogo que não conseguiu vencer.

Eis Baresi, o "Senhor Milan", no jogo mais importante da sua vida.

A maior derrota que teve.



Tiago Carvalho

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