"Só há 2 Cristos. Um joga no Barcelona e o outro está lá em cima, no céu"

Dono da bola, da arrogância e do conflito. Detentor do talento e da perna esquerda que a bola mais gostava. Arquitecto de uma Dream Team cat...

Dono da bola, da arrogância e do conflito. Detentor do talento e da perna esquerda que a bola mais gostava. Arquitecto de uma Dream Team catalã e Senhor da Bulgária. Eis o Bola de Ouro de 1994: Hristo Stoichkov.

O Hristo de Ouro

Diferentemente de Messi e Ronaldo, Stoichkhov não foi de permanecer no topo do mundo por toda a vida. A sua personalidade, de traços fortes e conflituosa, mostrava que o talento selvagem somente era compreendido pela bola. E os adversários nem sempre foram os jogadores contrários: treinadores e companheiros, muitos deles estrelas planetárias, foram armas de arremesso do Búlgaro. Mas, se ele estava focado em perder a razão, o dom que detinha destinava-se a coroá-lo no mundo dos eternos: E o ano de 1994 foi o apogeu da sua vida. O seu tempo de Ouro.



Toda a história tem a sua personagem principal. Nesta, trata-se do típico futebolista rebelde: louco, insatisfeito, alheado da boa imagem e sem papas na língua.

"Só há 2 Cristos. Um joga no Barcelona e o outro está lá em cima, no céu" - Stoichkov, em alusão ao seu nome Hristo (Cristo).

Feitas as apresentações, cabe-nos dizer que o pequeno grande talento entrou na história de pé esquerdo. Mas também foi por causa dele que se eternizou.

Quando ainda era novo e jogava no CSKA, o jovem prodígio búlgaro envolveu-se numa briga feia, em plena final de Taça. Tão feia que levou a uma especial censura: foi severamente castigado. A carreira suspendia-se e estava em cheque. Um começo tão promissor quanto questionável.

Mas se a cabeça se perdia com facilidade, a bola, essa, encontrava-se sempre no seu pé. O extremo esquerdo pôde regressar aos relvados e demonstrava características que nem uma cortina de ferro conseguia esconder. Foi um dos últimos grandes talentos do leste a sair. Provavelmente o maior de todos os búlgaros.

Os títulos internos pelo seu CSKA Sofia FC​ culminaram com o prémio de melhor marcador europeu em 1990. Um feito louvável e partilhado com Hugo Sanchez, avançado e glória do Real Madrid C.F.


A Chegada ao Barcelona


O FC Barcelona​, atento à janela de oportunidade, não perdeu tempo e trouxe-o para Espanha. O miúdo búlgaro entrava num grande clube, num dos maiores "Dream Team" da história e estava destinado a ser um pupilo do Senhor Johan Cruyff​.

O título chegou na época de estreia, desviando o troféu do velho rival. Mas como estava destinado a ser, a capacidade técnica dividia a atenção com a indisciplina. Chegou a estar afastado dos relvados por conduta imprópria ao árbitro. Na época seguinte, foi o 3º melhor marcador da equipa catalã e venceu a Liga dos Campeões! A primeira da história dos culés.

Corria a época de 1993/1994 e o Barça de Stoichkov (tricampeão espanhol) queria Romário, o baixinho, o tal craque da canarinha e dono de um talento peculiar. O avançado tinha comprovado o instinto letal na edição transacta da Champions e Cruyff não o deixaria escapar. Quem não achava grande piada a tal decisão? Stoichkov, claro está. Na origem estavam as regras de estrangeiros e o talento abundante na equipa. Mas a vida dá voltas. Se dá.

Com Romário e Stoichkov, o Barça ganhou asas e voou alto pelo mundo do futebol. O talento imperou sobre o físico, a adversidade e qualquer rival. O golo era a assinatura dos companheiros de crime. Foram 56 numa época. A relação entre os dois ultrapassou o jogo e cimentou-se na vida privada. Eram unha com carne. Foram designados de "melhor dupla de ataque do mundo". As voltas que a vida dá...

No final de 1994, o Dream Team de Cruyff sagrava-se tetra campeão espanhol. Como se não bastasse, iriam discutir a final da UEFA Champions League​ com o A.C. Milan​. o resultado foi terrível e devastador. Os italianos venceram por uns cupiosos 4-0 e a dupla acabou desfeita. O baixinho desentendeu-se com Cruyff e abandonou o barco. No ano seguinte, em 1995, o indisciplinado Stoichkov resolve rebentar a bolha: "ou Cruyff ou eu". Saiu o búlgaro, ao fim de 11 cartões vermelhos e umas quantas polémicas.

Mas temos de regressar ao final de 1994 para falar de Stoichkov. Tinha sido tetracampeão espanhol, acabara de perder uma final da Champions mas ainda detinha outra no seu currículo. Era um talento tão fascinante quanto irreverente e só a bola sossegava aquele coração inquieto.



Mundial de 1994: World Cup USA 94​


A Bulgária vinha de uma sucessão de fracassos. A equipa procurava afirmar-se no alto panorama do futebol europeu e mundial mas teimava fracassar. Foi preciso esperar até 1994 para que tudo se tornasse diferente. A melhor geração búlgara disputava o jogo de acesso ao sonho mundial diante dos gauleses. Papin e Éric Cantona​ desafiavam o sonho búlgaro. Mas num jogo fantástico, em pleno Parque dos Príncipes, a Bulgária dava a cambalhota ao jogo e vencia por 2-1. O golo da vitória foi alcançado no último minuto e o drama atingia o auge.

Chegava o momento tão esperado. Stoichkov liderava uma equipa com Kostadinov, Balakov, Yordanov, Penev, Ivanov e Lechkov. Um desejo de marcar território, aparecer no mapa e derrotar preconceitos. Um país em torno de um momento. O grupo era constituído por Nigéria, Grécia e Argentina.

O arranque não foi nada promissor. Uma esperada derrota aos pés da Nigéria, por uns esclarecedores 3-0. Yekini e Amunike escreveram os nomes na lista dos marcadores.

Na segunda jornada havia a Grécia pela frente e a vitória era essencial para qualquer desejo de continuar em prova. Um 4-0 seguro e moralizador levava o país a depositar todas as esperança no embate contra a Argentina. Stoichkov tinha feito 2 golos.

O embate decisivo trazia a toda poderosa Argentina. Stoichkov voltava a marcar e a Bulgária conseguia uma vitória fantástica. A Argentina dizia adeus à competição.

Nos oitavos de final surgia o México. O empate a 1-1 (com golo de Stoichkov) levava o jogo para as grandes penalidades. A vitória sorriria aos búlgaros.

Nos quartos de final, 2 golos em 3 minutos (1 deles de Stoichkov) davam a cambalhota no marcador e deixavam a Alemanha de fora. Um feito loucamente festejado por toda uma nação.

Mas eis que tudo tem um fim. No jogo das meias finais contra a Itália, Roberto Baggio fez 2 golos e superou o tento solitário do herói Stoichkov. O sonho terminava e o 4º lugar seria sentenciado pela Suécia, numa goleada por 4-0.

O ano dourado do futebol búlgaro tinha acabado com um golo de Stoichkov, um 4º lugar no Mundial, a artilharia repartida da prova e uma Bola de Ouro para o seu Hristo!


Depois disto, Stoichkov correu mundo, regressou ao Barça e acabou a carreira em solo americano. Nenhum ano foi igual ao de 94. Nenhum jogador búlgaro foi igual a Stoichkov.

Hristo foi eternizado no mundo dos Deuses do Futebol.

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