Futebol de terra plana

Finda a eliminatória frente ao Bayern, é para benfiquista ficar orgulhoso? Talvez orgulhoso seja uma palavra demasiado forte mas satisfeito ...

Finda a eliminatória frente ao Bayern, é para benfiquista ficar orgulhoso? Talvez orgulhoso seja uma palavra demasiado forte mas satisfeito pelo esforço e dedicação da equipa sim, sem dúvida. Poderia ter havido outro desfecho? Difícil. Se a abordagem foi a correcta? Completamente de acordo.             

De antemão sabemos que a equipa do Bayern é uma das referências maiores da modalidade, liderada por um treinador que mudou o paradigma do jogo e com uma filosofia muito própria. Mais do que defrontar um colosso, os portugueses defrontavam um conceito de jogo aprimorado por grandes artistas. O Benfica apresentou-se preparado perante o modus operandi já mais que contado de Guardiola, e uma vez mais Rui Vitória demonstrou ser alguém astuto e com um bom plano para o jogo. Sim esteve na retranca, mas essa era a abordagem, na retranca dando espaços onde o perigo não fosse imediato e esperando o seu momento para desferir um golpe fatal, um pouco ao jeito do que o Atlético de Madrid consegue fazer, como que fechando o terreno, como se de um ringue de futsal se tratasse. Em suma, aproveitar as descompensações defensivas do adversário. Houve oportunidades para isso mesmo, mas o mais provável verificou-se. O Bayern atacou mais, desperdiçou mais e acabou por marcar mais, nem que seja apenas mais um. Sim, houve erros de arbitragem, mas não é esse o ponto que quero destacar. 

 Não consigo aplaudir a não humilhação, não que o esforço da equipa não o justifique, mas por saber que era um jogo onde não lutavas de igual para igual, onde de resto o resultado é o que mais e se calhar a única coisa que se aproxima de uma igualdade. Desculpem-me o resto dos benfiquistas, mas o resultado foi justo e era difícil acreditar noutro desfecho, culpem-se os tempos, culpem-se os mercados, mas é preciso crescer mais para poder sonhar. Será isso suficiente? Sinceramente não sei, porque sempre que tu cresces os grandes tubarões estão um passo à tua frente, é a lei do futebol dos nossos dias. É difícil sonhar com o teu clube a vencer a champions.  Aquilo que o Porto fez em 2004 é algo de utópico, uma bela equipa sem sombra de dúvidas, mas com uma conjugação incrível de eliminatórias a contribuir também com a sua dose, para a felicidade. Nesse mesmo ano verificaram-se as ultimas presenças de equipas não espanholas, inglesas, italianas ou alemãs na final. Foi uma portuguesa e uma francesa! E não se avizinha que o paradigma possa mudar. Podia estar aqui horas a contar como ano após ano a história não se altera, e como não há interesse para que se mude a realidade. Hoje não estou triste por o Benfica ter sido eliminado, estou triste por uma equipa trabalhadora e inteligente, que se reinventa época após época, não poder discutir verdadeiramente a maior prova de clubes do mundo. Estou triste por ter desligado a ficha da ilusão, e saber de novo, que um futebol que produz dos melhores jogadores, treinadores e até empresários do jogo, não pode lutar pelas conquistas internacionais de primeira linha.                                       


Português que é português rema contra as ondas, encontra terras nunca antes descobertas, mas este planeta do futebol está cada vez mais plano e fica difícil de contornar.



Bruno AFNunes

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