André Silva recusou-se a perder, mas o Porto não queria ganhar.

Este Porto é instável, inseguro e esquizofrénico. Vê o mal em tudo o que faz, até quando tem a bola nos pés. Numa tarde de grande epectáculo...

Este Porto é instável, inseguro e esquizofrénico. Vê o mal em tudo o que faz, até quando tem a bola nos pés. Numa tarde de grande epectáculo, Chidozie, Marcano e Helton deram um conforto que o Braga voltou a não saber manter. Pelo meio, apareceu um menino com uma tarde digna de Jamor, que a história recusar-se-à a esquecer. Todavia, Marafona segurou os bracarenses com mãos dignas de erguerem a Taça.

A fronteira entre a sorte e o azar é muito ténue, mas a da competência e incompetência não. Numa tarde fantástica de futebol, o equilibrio que o rigor táctico dava acabou por ser desfeito numa ingenuidade de Chidozie, comparticipada pela infantilidade de Hélton. O Porto via-se a perder na primeira vez que o Braga ameaçava a sua baliza.

Ficou a sensação de que o jogo começaria ali a ganhar um interesse ainda maior. Iria abrir e permitir mais espaço e qualidade. O Porto tentava mas não havia grande inspiração individual. Brahimi não conseguia, Varela também não e era o miúdo que se desgastava lá na frente, entregue à sorte dos centrais bracarenses. Rafa segurava, geria os tempos e procurava desequilíbrios. O intervalo chegava e Peseiro sentia o nó na garganta...

Com a segunda parte o Braga recuou ainda mais, muito mais do que a própria pressão que esperava, mas a qual o Porto não soube fazer. A baliza de Marafona, ainda assim, era a única que a bola rondava. Os Dragões estavam empenhados em emendar o erro e resgatar a taça, mas faltava-lhes sempre algo.

E este Porto é o pior inimigo de si mesmo. Mutila-se com tal gravidade que as feridas que deixa tornam-se irreparáveis. Em mais um lance displicente do seu eixo defensivo, Helton toca curto, Marcano adormece, recepciona mal e permite que (o portista) Josué se isole perante um desamparado Helton. Mais um golo, mais uma infantilidade incompreensível e uma vergonha colectiva. Estava feito o 2-0 e os guerreiros do Minho exultavam! A festa era vermelha e branca, carregada de sonho e ilusão.

Depois, lá apareceu um garoto, aquele que estava a ser entregue às feras, que lutava por entre os centrais. André Silva vestiu o fato de herói e assumiu, per si, as despesas do jogo. Sozinho e sem medo. Após uma jogada de insistência azul e branca, em que Marafona evita instintivamente o golo, o jovem português encosta, no sítio certo, na hora exacta. As bancadas voltavam a mostrar um azul que se tornava baço e descolorido.


E então Paulo Fonseca sentiu o chão estremecer. Não que o Porto fosse verdadeiramente sufocante ou demolidor, mas porque o Braga sentia o latejar de feridas do passado... a final do ano passado veio à mente dos seus jogadores, apesar da serenidade que o 2-1 (ainda) lhes dava.

O Porto foi tentando, jogando o que podia e o que o Braga permitia. Enquanto Brahimi e Layun assumiam as despesas dos cruzamentos, Peseiro sentia um destino mais do que traçado: uma final perdida, um adeus anunciado. Até que, num dos poucos lances em que Marafona não conseguiu levar a melhor, Herrera cruza em esforço e André Silva - quem mais? - numa bicicleta tão bela quanto eficaz, conseguia um empate dramático!

O Porto corrigia os erros que quase lhe custaram o embaraço. O Braga voltava a perder a vantagem confortável que tinha, 1 ano depois, no mesmo sítio. A felicidade e o azar, lado a lado, confundidos com a competência e a incompetência, mas desta vez sentida em cores diferentes. O final do jogo era dramático e vibrante. O Jamor explodia.

No prolongamento, o Braga rendeu-se. Já lá não estava, as forças tinham-se perdido. O Porto, revigorado e alimentado pelo seu avançado, fez o cerco e procurou a vitória. Todavia, o 2-2 não se alterou e os penaltis seriam o fatídico tira-teimas.

Na hora da verdade, Herrera tremeu e Marafona voou. Lá ficou o Porto novamente em desvantagem. Depois foi Maxi a permitir que Marafona voltasse a ser herói. Baiano garantiu o pleno bracarense e correu para a festa!

Paulo Fonseca não conseguia falar... chorava como os homens choram, vingava o orgulho bracarense, conquistava um troféu que fugia há precisamente 50 anos, logo contra uma anterior equipa sua. Do outro lado, José Peseiro caía em si. Depois de Lopetegui, o mesmo Porto, entregue à esquizofrenia, repleto de sintomas há muito diagnosticados e que  continuam a retirar-lhes qualquer possibilidade de sucesso.


Em suma, o Braga entregou-se à sorte, aquela que efectivamente teve e o Porto lhe deu. Quanto aos Dragões, viveram de iniciativas individuais, alimentaram-se do querer e vontade do garoto mas esbarraram no excesso dos seus erros e medos. O reflexo de uma época, espelhado em momentos tão inacreditáveis quanto inexplicáveis.

Uma festa fantástica num Estádio mítico. No Jamor há Taça e festa, de todos nós, independentemente das nossas cores.


Tiago Carvalho.

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