Há 20 anos os Leões de Lisboa contratavam o maior ídolo da era moderna

Há 20 anos o Celtic contratava um promissor avançado sueco aos holandeses do Feyernoord . Na sua carta de apresentação vinham golos e um...

Há 20 anos o Celtic contratava um promissor avançado sueco aos holandeses do Feyernoord. Na sua carta de apresentação vinham golos e um talento que ultrapassava o mero gesto técnico final. Rompia com o rótulo de jogador nórdico: era técnico, ágil, móvel e a sua relação com a bola deveras interessante. Jogava preferencialmente pelo chão, mas, quando preciso, mostrava como se fazia lá em cima. Era sangue quente e irreverente misturado com a típica frieza nórdica - o pai era cabo verdiano, talvez isso ajudasse a perceber muita coisa. Tinha futebol no corpo.


Mas nem tudo foi fácil para Henrik Larsson, que lutou para sobreviver no mundo do futebol. Era morfologicamente diferente, mais baixo do que a realidade escandinava (1,77 metros) e o seu crescimento não era tão notório. Fisicamente, era diferente. Mais leve. Então desdém perdurou até ter tido e agarrado uma oportunidade no Helsingborg. Pelo meio foi obrigado a trabalhar para pagar as contas, numa empresa de mercadorias. A partir dali, foi história, conforme diz.

Ainda assim, Sven Goran Eriksson trouxe-o à Luz quando este tinha 18 anos. O garoto veio conhecer a realidade encarnada e esteve em testes. Acabou por se afastar do nosso futebol ao não ter convencido os responsáveis do Sport Lisboa e Benfica. A juventude nem sempre ajuda e a vida nem sempre é fácil.

Na banheira de Roterdão começou a despontar para a Europa. O ofensivo e atractivo campeonato holandês tornava-se a janela perfeita para se dar a conhecer. E ninguém fica indiferente aos nomes dos avançados que, até então, por lá tinham passado. Olhando para trás, Larsson justifica a saída de solo holandês pela insatisfação sentida para com o clube. Mas sem mágoas, porque a história é demasiado feliz para esmorecer nos primeiros capítulos.


Então, na temporada 97/98, há precisamente 20 anos atrás, os "Leões de Lisboa" partiram para a contratação de um dos seus maiores rostos. A Escócia seria o destino de Larsson, a terra do futebol britânico, da bola pelo ar, da força física e da dureza excessiva. O país da chuva, do cinzento e do terreno pesado. Nada que fosse maior ou mais forte que o sueco!

Quando chegou, os "Católicos" tinham de evitar, a todo o custo, o 10º título consecutivo dos "protestantes" Rangers - na época anterior, de 96/97, até tinha sido Jorge Cadete o artilheiro da prova. A tarefa era enorme e a pressão gigantesca, mas eles conseguiram! O Celtic jogou as probabilidades no caixote do lixo e sagrou-se campeão!

 O resto? É história.

7 anos em Glasgow, 4 campeonatos, 2 Taças e 3 Taças da Liga. Bota de Ouro da Europa.

Contudo, em 99, num lance horrível e de infelicidade extrema, o sueco partiu a perna. Uma lesão gravíssima que o levou à operação e a uma pausa significativa. Qual foi a resposta de Henrik? Regressou ainda melhor. Foi eleito o melhor marcador europeu após o regresso! Marcou 53 golos naquele ano, 35 no campeonato. Tornou-se o primeiro jogador escandinavo a ganhar a bota de ouro. 

De 2001 a 2004 foi o melhor marcador da Scottish Premier League.

Por entre preferências e desilusões, Larsson não esconde: o seu melhor parceiro foi Chris Sutton, eram almas gémeas, opostas mas complementadas uma pela outra. O discurso perfeito foi o de Martin O`Neill, antes de um jogo em Anfield, e a derrota em 2003, para o Porto de Mourinho, na final da UEFA (actual Liga Europa) foi uma dor enorme. Marcou 2 golos naquela final. Era o regresso do Celtic à glória europeia, era o sonho dos jogadores, treinadores e adeptos. A voz ainda treme. Serve-lhe de conforto o facto de, aquele Porto, ter sido Campeão Europeu a seguir. A prova de quão bons, de facto, eram.


Após 7 anos em Glasgow, o ídolo dos escoceses partiu. Afirma ter tido mais de 30 clubes a querer a sua contratação, mas procurava um clima quente. Depois chegou o Barcelona e não havia argumentos para dizer que não. E lá foi ele, o adeus do ídolo, numa altura em que a imprensa já dizia que o melhor Larsson já tinha ficado para trás. O coração apertou mas a vida é mesmo assim. Ainda mais no futebol.

E o sonho chegou, o melhor momento da carreira chegou em 2006, diante do Arsenal, na noite em que se sagrou Campeão Europeu, conquistando a famosa Champions! Mas há algo que marcou Larsson na sua passagem pelo Barça: Ronaldinho, sim, Ronaldinho, chamava-o de ídolo! Era surreal mas todas as manhãs ele dizia: "hey, ídolo" para o sueco!!!!


Depois de algum tempo pelo banco de suplentes, resolveu partir para a Suécia, para o ponto de partida, para casa. O lugar onde pudesse jogar e pousar a cabeça para finalmente descansar. Ainda assim, regressou ao estrelato, ao Manchester United, num empréstimo de curta duração. E o avançado aponta essa curta estadia como uma das suas falhas na carreira. Devia ter ficado mais um tempo, mais um ano. Tudo ali era profissional e perfeito. Devia ter saboreado a Premier League. Mas o contrato era com o seu clube sueco, o de sempre, e há coisas que não se conseguem ignorar.

Na eleição do seu melhor golo, Henrik Larsson escolhe o que tem uma "cueca" e um chapéu. Ao
seu maior rival, claro. Pelo seu Celtic.


O melhor derby/clássico que jogou é o Old Firm. Nada bate a atmosfera louca de um país dividido num jogo de futebol. Quanto ao carinho nutrido pelo Celtic, talvez um dia regresse como treinador. A ambição permanece intacta!

20 anos depois, a Gola recorda a chegada à Escócia de um dos melhores avançados da era moderna. Uma história que muitos de nós apreciaram com enorme admiração.


Tiago Carvalho



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