Maracanazo: Uma história que a história não apaga

Sobre o dia 16 de Julho de 1950, Nelson Rodrigues escreveu o seguinte: "Todo o país tem a sua desgraça, algo do género de Hiroshima,...

Sobre o dia 16 de Julho de 1950, Nelson Rodrigues escreveu o seguinte:

"Todo o país tem a sua desgraça, algo do género de Hiroshima, por exemplo. A nossa catástrofe, a nossa Hiroshima, foi a derrota aos pés do Uruguai, em 1950"

Nesse dia, o mítico Maracanã recebeu perto de 200 mil pessoas (173.850 números oficiais), decidia-se o Mundial de 1950 (num formato bem diferente do que agora estamos habituados) e a última jornada ditava que ao anfitrião e demolidor Brasil bastava um empate frente ao Uruguai.

Mas as goleadas impostas à Suécia (7-1) e Espanha (6-1) de pouco valeram aos da casa. O Uruguai entrou sem medo e abstraiu-se do ambiente infernal em que estava envolvido. Na bancada fazia-se a festa mas no campo a história era outra. Coisa séria.

Depois de um nulo ao intervalo, o escrete fez o tão desejado golo logo nos primeiros minutos da segunda parte. Então o Uruguai partiu para cima, bem ao seu estilo: no carácter, na coragem, na determinação. E a 11 minutos do fim virava o marcador. 1-2, para os uruguaios. Alcides Ghiggia silenciava um estádio, um povo e um país. No seu tiro morreu uma nação. Como se não bastasse, condenou à morte um guarda redes.


Barbosa, o guardião Vascaíno, tinha ficado mal na fotografia e sentia o pesar de um golo que não deveria ter consentido. Foi julgado ali, no relvado que tantas vezes o amparou. E aquele silêncio sepulcral matou-o. A sentença saiu e perpetuou-se.

Foi declarado culpado.
Já na década de 90, o guarda redes brasileiro afirmou:

"No Brasil a pena máxima é de 30 anos, mas eu pago há 40 por um crime que não cometi".

Mas voltemos ao lado certo do futebol, ao golo e a Ghiggia:

"Apenas 3 pessoas silenciaram o Maracanã: Frank Sinatra, o Papa João Paulo II e eu"

Palavras do lendário avançado uruguaio que deu um Campeonato do Mundo ao seu país!

Tanto tempo depois, o Brasil é Penta, o país do futebol e já conquistou um mundo e milhões de corações. Este ano procura, em solo russo, nova conquista. Ainda assim, permanecerá sempre a ferida, aquela que não fecha e ainda dói. Algo que o tempo não esquece.

Há histórias que a história não apaga.


Tiago Carvalho

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