Há paixões que são para a vida: O futebol, o clube e as cores que nos distinguem. Com a entrega do coração a um clube, escolhemos lados, ambicionamos sonhos, juramos amor eterno e definimos rivais. Sporting e Benfica são duas paixões históricas, cores da mesma bandeira e símbolos da mesma cidade. Representam o estado puro do futebol e são dois rivais eternos. Dois lados da mesma moeda.
Foto: Lusa |
A história não os deixa e eles não se largam. Se a rivalidade incendeia o campeonato, o medo da derrota apimenta a relação. Senhoras e senhores, este é o derby eterno, carregado de golos e emoções. O jogo maior do nosso país futebolístico.
O Sporting, melhor defesa e actual líder do nosso campeonato, recebe amanhã o Benfica, melhor ataque e o segundo classificado. O ponto que os separa é pequeno para tanto que há em jogo. Nesta fase da época todos fazem contas, traçam cenários, escondem medos e sacodem pressões. O que é certo é que há muito um derby não era tão clássico quanto este: os dois em guerra aberta por um título disputado taco a taco.
Na cabeça dos adeptos pairam dados relevantes:
- O Sporting já ganhou uma Supertaça ao Benfica
- Na primeira volta, no Estádio da Luz, os Leões venceram por uns esclarecedores 3-0
- Em Alvalade, o Benfica caiu para a Taça de Portugal, após empate a 1-1 e derrota no prolongamento
- O Benfica ainda não ganhou qualquer jogo com os rivais, este ano
- O Sporting ainda não perdeu qualquer partida com os rivais, nesta época.
Mas a actualidade demonstra que nem tudo é assim tão linear. Senão vejamos, o Benfica melhorou bastante em relação ao jogo da primeira volta. A equipa tem um ataque demolidor, está estável e compacta, pouco vacilante e muito regular. Por seu lado o Sporting tem vindo a perder gás, com exibições menos entusiasmantes e mais tropeções - vem de um em Guimarães. Em casa está imbatível há pouco mais de um ano mas é precisamente lá que tem deslizado. Se a diferença entre os dois é a mesma do jogo da Luz? Não. Estão mais próximas. O colectivo é verde e corajoso mas o talento individual é encarnado e expressivo.
E lá voltamos nós ao que é o derby: por esta altura e depois de cada um fazer contas à vida e ao melhor e pior cenário. as unhas começam a ser roídas. O medo do castigo de Slimani, do amarelo do Renato Sanches, da indisponibilidade de Adrien e da fragilidade física do mestre Gaitán, já desgastaram o mais fervoroso adepto. Uns ainda lamentam a má forma do William, outros sentem falta do capitão Luisão. Vive-se aquele período de acreditar e desacreditar, acompanhado pelo ligeiro frio na barriga.
E é aí que nos refugiamos no passado: nas recuperações hercúleas, nos golos inesquecíveis e na maior goleada lembrada. Cada um escolhe os seus vídeos, as suas cores e os seus heróis. Faz parte, a memória humana tende a esquecer o que não lhe convém. Uma selectividade oportunista. E lá vem Eusébio e Travassos, Peyroteo e Coluna. Recorda-se o Damas, o José Augusto, o golo do Balakov e a defesa do Enke. Ainda choramos a relembrar o golo do Sabry e festejamos ardentemente o festival do grande artista João Pinto. Liedson traz medos e Cardozo segurança. Cada relato traz pele de galinha e memórias de momentos únicos. "Foi para isto que o meu pai me levou ao futebol... não sei como lhe agradecer"
O João Pinto... do que me fui lembrar... outrora odiado, virou herói. Ou o menino de ouro que passou a amargura. Será sempre assim e assim será. Faz parte da história e da vida. No fim, caberá ao verdadeiro adepto filtrar as memórias e guardar apenas o que é bom de lembrar. E atenção, para o ano há Carrillo... mas vamos lá voltar ao texto!
Amanhã, quando o sol nascer, serás nervosismo. Queres que o jogo comece e simultaneamente acabe, queres que o golo apareça e que o outro, dos outros, não tivesse acontecido. Saltas a cada ataque e encolhes-te em cada contra-golpe. Quererás gritar alto para todo o mundo ouvir o orgulho que carregas, ou tentarás omitir o menor ruído que haja e que te lembre que aquele pesadelo se concretizou.
E engana-se quem pensa que um derby é apenas um jogo. No trabalho eles falarão do que decidiste ignorar e fugirão quando lhes quiseres mostrar quem é o maior. O amigo, que é rival, ligar-te-à como cobrança do telefonema da primeira volta. Ou então, mais do mesmo, esconder-se-à da derrota. A culpa é do árbitro - aquela arma de arremesso fácil e lançada em último recurso. Haverá sempre algum caso que, dependendo da cor, resultado e ocasião, vira preponderante. Como já disse, a memória é selectiva e a verdade é somente uma: aconteça o que acontecer, a vida continuará e as esperanças permanecerão. Porque de vitória aqui e trambolhão acolá, as contas fazem-se no fim.
Derby é derby. E o amor aos teus ideiais tornam-te um fã incondicional deste jogo. Há algo que a história nos dá, que a família passa e a paixão cimenta. Há algo que é só nosso, de cada um e simultaneamente de todos. Há algo que, mais do que lisboeta, é português. E eterno. Por isso veste a camisola e afina a garganta. É para isto que nós vivemos!
Caramba, estou a ficar nervoso. Amanhã há derby!!!
Tiago Carvalho
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