Futebol de terra plana
23:24:00Finda a eliminatória frente ao Bayern, é para benfiquista
ficar orgulhoso? Talvez orgulhoso seja uma palavra demasiado forte mas
satisfeito pelo esforço e dedicação da equipa sim, sem dúvida. Poderia ter
havido outro desfecho? Difícil. Se a abordagem foi a correcta? Completamente de
acordo.
De
antemão sabemos que a equipa do Bayern é uma das referências maiores da
modalidade, liderada por um treinador que mudou o paradigma do jogo e com uma
filosofia muito própria. Mais do que defrontar um colosso, os portugueses
defrontavam um conceito de jogo aprimorado por grandes artistas. O Benfica
apresentou-se preparado perante o modus operandi já mais que contado de
Guardiola, e uma vez mais Rui Vitória demonstrou ser alguém astuto e com um bom
plano para o jogo. Sim esteve na retranca, mas essa era a abordagem, na
retranca dando espaços onde o perigo não fosse imediato e esperando o seu
momento para desferir um golpe fatal, um pouco ao jeito do que o Atlético de
Madrid consegue fazer, como que fechando o terreno, como se de um ringue de
futsal se tratasse. Em suma, aproveitar as descompensações defensivas do
adversário. Houve oportunidades para isso mesmo, mas o mais provável
verificou-se. O Bayern atacou mais, desperdiçou mais e acabou por marcar mais,
nem que seja apenas mais um. Sim, houve erros de arbitragem, mas não é esse o
ponto que quero destacar.
Não
consigo aplaudir a não humilhação, não que o esforço da equipa não o
justifique, mas por saber que era um jogo onde não lutavas de igual para igual,
onde de resto o resultado é o que mais e se calhar a única coisa que se
aproxima de uma igualdade. Desculpem-me o resto dos benfiquistas, mas o
resultado foi justo e era difícil acreditar noutro desfecho, culpem-se os
tempos, culpem-se os mercados, mas é preciso crescer mais para poder sonhar.
Será isso suficiente? Sinceramente não sei, porque sempre que tu cresces os
grandes tubarões estão um passo à tua frente, é a lei do futebol dos nossos
dias. É difícil sonhar com o teu clube a vencer a champions. Aquilo que o Porto fez em 2004 é algo de
utópico, uma bela equipa sem sombra de dúvidas, mas com uma conjugação incrível
de eliminatórias a contribuir também com a sua dose, para a felicidade. Nesse
mesmo ano verificaram-se as ultimas presenças de equipas não espanholas,
inglesas, italianas ou alemãs na final. Foi uma portuguesa e uma francesa! E
não se avizinha que o paradigma possa mudar. Podia estar aqui horas a contar
como ano após ano a história não se altera, e como não há interesse para que se
mude a realidade. Hoje não estou triste por o Benfica ter sido eliminado, estou
triste por uma equipa trabalhadora e inteligente, que se reinventa época após
época, não poder discutir verdadeiramente a maior prova de clubes do mundo.
Estou triste por ter desligado a ficha da ilusão, e saber de novo, que um
futebol que produz dos melhores jogadores, treinadores e até empresários do
jogo, não pode lutar pelas conquistas internacionais de primeira linha.
Português que é português rema contra as ondas, encontra terras nunca antes descobertas, mas este planeta do futebol está cada vez mais plano e fica difícil de contornar.
Bruno AFNunes
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