Atlético vs Real: Muito Oblak para tão pouco Ronaldo

O Vicente Calderon encheu-se para mais um grande jogo europeu. De orgulho ferido, a equipa de Simeone procurou adormecer o Real e surpreend...

O Vicente Calderon encheu-se para mais um grande jogo europeu. De orgulho ferido, a equipa de Simeone procurou adormecer o Real e surpreendê-lo em transições rápidas, como apanágio. Mas o Real Madrid entrou determinado e destemido, mandão. Deixando de lado a estatística e o historial recente, acabou por assumir as despesas do jogo e apoderar-se da bola e do meio campo dos colchoneros. Tiago ficou no banco e fez muita falta à linha média da equipa da casa, que se viu completamente perdida nos primeiros 45 minutos. Oblak negou golo atrás de golo e ao intervalo o empate era lisonjeiro para o Atleti.

Foto: EPA/ Alberto Martin


No segundo tempo, tudo diferente. As linhas do Atlético ficaram mais próximas e a equipa, mais coesa, não deixou o Real ter tanta bola. Acertaram-se as marcações no meio e o jogo tornou-se quezilento (com agressões à mistura!).  O Atleti começou a equilibrar o jogo quando sentiu que o Real estava preso na sua teia e Ronaldo, apesar de esforçado, amarrado à marcação. Muita luta, menor objectividade e, pouco a pouco, a baliza de Casillas deixou de ser uma miragem. O jogo tornava-se menos perigoso, mais controlado. O jogo tinha arrefecido, o Real sentia-se cada vez menos confortável e sem fôlego. A melhor discrição, à contrário, do Atlético de Madrid. No final, 0-0, uma partida sem golos mas com muita entrega.  E um obrigado generalizado a Oblak.

Ancelotti tinha dito que, independentemente do que acontecesse hoje, nada estava ganho nem perdido. Valeu pelos primeiros 45 minutos de afirmação. Talvez um golo tivesse sido o condão necessário para uma mudança radical do jogo. Mas Bale, por duas vezes, Ronaldo e James não conseguiram traduzir a superioridade em golos.

Simeone é isto. Não se pode dizer que o argentino inova ou surpreende tacticamente. A previsibilidade do seu jogo é notória mas de uma utilidade prática fascinante. A sua forma de pensar encaixa na plenitude neste Atlético e em cada jogador. Godin, Tiago, Arda Turan e até Mandzukic demonstram no campo o rigor que o técnico pretende. A equipa é compacta e unida. Solidária e com uma alma incrível. Quando consegue estar em sintonia, torna-se extremamente difícil batê-la. A segunda parte foi a prova disso. O Atlético acertou e o Real saiu do jogo. Oblak foi o herói e agora um empate com golos pode qualificar os Colchoneros!


Melhor em campo: Oblak. Sim, esse mesmo, aquele que jogou no Benfica, passou mais de meia época como suplente e que agora, uma vez ganha a titularidade, promete não mais sair. Pode não ter sido uma noite do outro mundo em trabalho, mas quando foi chamado cumpriu. Cumpriu com elegância, técnica e segurança. E voltou a evidenciar aquela tranquilidade que demonstrara ao serviço das águias.


Destaques:

Varane: o miúdo francês já anda nisto há tempo suficiente para não acreditarmos que é verdadeiramente... um miúdo. Ele dobra, corta linhas de passe, desarma e posiciona-se com uma mestria única para tenra idade. A sua velocidade é um acréscimo que o completa. A sua actuação ganha outro tom quando joga ao lado do desastroso Sérgio Ramos. 


James: para quem vem de lesão, não está nada mal. O seu jogo deambulante, entre linhas, torna a equipa muito mais fluída, solta. Faz jogar, apoia e sabe aparecer nos espaços. Não é um daqueles "galácticos" mas é uma pérola com larga margem de progressão. 

Godin: Ele está em todas, seja na frente ou atrás. Está também nas confusões e nos protestos. Mas está lá, como Simeone lhe pede. Tem um pulmão enorme e uma alma do tamanho do mundo. Um guerreiro. 


Pela negativa:

Ronaldo: Por muito que nos custe, a verdade é que a estrela maior acabou por não brilhar. Ele bem tentou, nem que fosse de livre, mas hoje a noite não era sua. Dirimiu-se no meio de tanto homem do Atleti e acabou inconsequente. Oxalá tenha guardado o seu talento para o jogo da segunda mão.

Sérgio Ramos: Mais do mesmo. É espanhol, forte no jogo aéreo e um símbolo com muitos anos de casa, é certo. Mas, a meu ver, comete erros atrás de erros. Péssimo a construir o jogo a partir da defesa - entregando sucessivamente bolas de golo aos adversários. É falível em demasia e o suficiente para enervar defensivamente uma equipa. Uma exibição que só se aceita porque Varane o segurou. Sim, o garoto segurou o experiente!

Benzema: Passou ao lado do jogo. Decidiu sempre mal e foi substituído. Nada mais a dizer.

A ausência de Tiago e a decepcionante primeira parte do Atlético: 
Sei que a idade já pesa nas pernas, mas este Atlético é órfão da experiência, sentido posicional e rigor táctico do português. A forma como articula o jogo e aproxima as linhas tornam a equipa muito mais compacta quando joga. Mas Simeone lá saberá o que faz.



Tiago Carvalho.


You Might Also Like

0 comentários