Clássico: Um jogo "de medos" que empata o Porto

O entusiasmo para o jogo do título era grande, tão grande quanto as duas equipas que entravam em campo. De um lado, o líder Benfica, do out...

O entusiasmo para o jogo do título era grande, tão grande quanto as duas equipas que entravam em campo. De um lado, o líder Benfica, do outro o segundo classificado, o Porto. Se a semana dos Dragões tinha começado da pior maneira possível e imaginável, era certo e sabido que eram o clube perfeito para mostrar carácter e reagir à goleada. Aliás, carácter é o que não tem faltado ao Porto, ao longo dos anos. Todavia, a Luz é um palco de espectáculo. Os encarnados, liderados pelo experiente Jorge Jesus, sabiam da importância do jogo e do seu peso para o desenrolar do campeonato. Um empate manteria o Porto perto (3 pontos que viram 4 em confronto directo) mas a precisar de 2 deslizes encarnados nos últimos 4 jogos. A derrota deixava os portistas a 6 (os tais 7) e fechariam muito provavelmente as contas. Cientes de tudo isso, os treinadores foram a jogo, entre cautelas e gestões, com respeito e ambição... ténue. No fim, o sabor era diferente: o amargo de boca de um Porto que não conseguiu colar-se, ao contrário de um paladar a vitória. Um gostinho a campeão!

Foto: Reuters
Um jogo com um Porto modificado: na baliza entrava Helton apesar dos poucos jogos nas pernas, fruto de uma época marcada pela lesão sofrida. O experiente brasileiro, para além do seu talento com as mãos, joga melhor do que Fabiano com os pés e os seus sempre elevados índices de confiança, somados à sua vasta experiência, traziam, ao sector recuado, a calma que Fabiano tinha perdido em Munique. Depois, Rúben Neves no meio campo. O jovem portista foi lançado ao 11 com o intuito de gerir os ritmos do Porto e preencher o espaço entre linhas do sector recuado. Por fim, Evandro, o espelho daquilo que Lopetegui queria (reforçar a zona interior do meio campo), ou podia (fica a dúvida se Tello, em condições, não teria sido o eleito). Quaresma, Fabiano e Herrera sentavam-se no banco.

Quanto ao Benfica de Jorge Jesus, Talisca era a principal novidade. O jovem brasileiro aparecia no lugar do lesionado Salvio mas não tinha como missão jogar na linha. Um reforço da zona central, a nevrálgica, onde Jesus acreditava que, uma vez ganha, daria a chave do jogo. Tirando isso, um Benfica igual em toda a linha.

O início do jogo trouxe o que de facto iria ser a partida: muitas faltas, equipas algo nervosas, muito coração e uma emoção contagiante vinda dos adeptos, capaz de embelezar o futebol cerrado e demasiado táctico. O Porto, como lhe competia, procurou vincar posição, impor jogo e intimidar o rival. O Benfica, como só ele podia, soube ser paciente e procurava mostrar ao adversário que podia gerir. Um jogo de meio campo, onde o ascendente foi repartido em largos momentos sem que nenhuma equipa se mostrasse claramente superior à outra. Se ao intervalo o empate se aceitava? Claro. Talvez o Porto tivesse estado melhor, mas tirando um remate de Jackson por cima, nada mais se passou ao redor das duas balizas. O intervalo chegava e os últimos 45 minutos ameaçavam ser decisivos.

Na segunda parte, o esperado: Um Porto a entrar para se impôr, mas sem sucesso. A equipa partiu, e nem a entrada de Herrera para o lugar do desencontrado Ruben Neves foi suficiente. Pouco depois, Brahimi sai (não encontro explicação para a saída do argelino e a permanência de Evandro) e entra Quaresma. Um Porto a procurar maior verticalidade e jogo lateral. O Benfica equilibrou o jogo, controlou-o e mostrou-se confortável. Fejsa e André Almeida ajudaram a dar consistência ao futebol encarnado que foi ganhando espaço, qualidade e finalmente conheceu a baliza de Helton. A partir daqui os encarnados controlaram as operações. E assim se notaram as diferentes velocidades das equipas: se na primeira parte estavam presas na mesma teia, na segunda o fatigado (física e mentalmente) Porto fazia das tripas coração para superar um Benfica inteligente e confortável no marcador. No fim, o exemplo máximo de um empate (há 13 anos que não acontecia um sem golos!). O Benfica continua líder e o Porto na perseguição (cada vez mais difícil).  

Em brincadeira, este jogo fez-me lembrar os longos rounds de um combate de boxe, onde um lutador, exausto e pouco lúcido, mas a precisar de ganhar, procura não ser "noqueado" e chegar à vitória num golpe fatal. O outro, bem mais confortável e fresco, controla o adversário e gere os momentos da luta. Muita alma, mas pouco combate emocionante. Faltam golpes e os adversários passaram tempo demais agarrados um ao outro, bloqueando quaisquer investidas.

Em tarde de emoções, a Luz conheceu alguns registos interessantes: melhor casa da época, mais de 63 mil pessoas, 2206 dias depois o Benfica voltou a ficar em branco nos jogos caseiros para a liga e, pela primeira vez desde que assumiu o cargo de treinador do clube, Jorge Jesus acabará uma época sem qualquer derrota contra o Porto. Já há quem diga que o campeão não volta, permanece!


Tiago Carvalho

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