Sporting: uma exibição cinzenta com um bom fim

Um Sporting diferente de Paços. Diferente em tudo, até mesmo no resultado. Marco Silva mexeu em zonas nevrálgicas do terreno e deixou no ba...

Um Sporting diferente de Paços. Diferente em tudo, até mesmo no resultado. Marco Silva mexeu em zonas nevrálgicas do terreno e deixou no banco jogadores como Wiliam Carvalho e Slimani. Nani ficou de fora por castigo e Tanaka, Mané e Rosell saltaram directamente para o 11 titular. Paulo Oliveira regressou ao centro da defesa e Cédric nem no banco se sentou. Um Sporting que não foi tão artístico como o de Paços de Ferreira, bem longe disso, mas soube ser pragmático e sofrer. Um Sporting que soube arregaçar as mangas e fazer o trabalho sujo. Um Sporting que soube jogar feio e ter (alguns) momentos de qualidade. Um Sporting que não encantou, mas ganhou. E o importante são mesmo os 3 pontos. Depois da qualificação para o Jamor, a consolidação do 3º lugar. Uma semana feliz no reino do leão.

Foto: Lusa/ José Sena Goulão


Domingo de futebol no Bonfim e um terreno onde o Sporting não vencia desde o ano de 2010. Os leões de Marco Silva sabiam da importância deste jogo e só a vitória interessava, para não deixar o Braga aproximar-se perigosamente da 3ª posição e do consequente acesso à Champions. Do outro lado, Bruno Ribeiro procurava fugir aos perigosos últimos lugares e pretendia vencer uma batalha que, mais tarde, lhe poderia fazer ganhar a guerra. O avançado sul coreano Suk rendia Rambé e tinha como missão ferir de morte o leão. Ferir até que feriu, mas, no fim, o leão saiu pelo seu próprio pé, entre rugidos.

O jogo até começou bem para o Vitória. Entraram pressionantes e com o intuito de surpreender um Sporting ainda à procura do seu futebol. Com um futebol lateralizado, à procura de Zequinha e Advíncula, os Sadinos chegaram mesmo a assustar Rui Patrício, mas o cabeceamento acabou com defesa fácil. O Sporting bem tentava mas não conseguia ligar o seu jogo. A bola teimava em ser pontapeada e discutida pelo ar. Um futebol jogado mais com o coração do que com cabeça. Mas, após o susto, a equipa leonina lá acordou e aventurou-se a chegar à área adversária. Os dois do meio campo mais ofensivo (Adrien e João Mário) conseguiam articular o jogo com Carrillo Mané e Tanaka e aos 14 minutos assustam pela primeira vez o guarda redes alemão Raeder.

Este lance teve o condão de definir hierarquias. O Sporting sacudiu a pressão inicial e o Vitória percebeu que o Sporting tinha qualidade para fazer estragos. Os duelos começaram a ser cada vez mais ganhos pelos jogadores do Sporting e a bola, ainda que lentamente, começava a passar cada vez mais pelo pé dos verdes e brancos. Mais chão, menos confusão. E foi aos 30 minutos de jogo que se gritou golo, ainda que em vão. Paulo Oliveira ganha a bola nas alturas e cabeceia para uma defesa fantástica de Raeder para o seu travessão. O Sporting estava melhor, por cima, e foi ao minuto 40 que Carlos Mané, em zona interior, desvia um cruzamento de Miguel Lopes. Golo, vantagem e um Setúbal a pagar caro o seu desaparecimento do jogo.

Pouco depois, o inevitável Tanaka a fazer golo de pé esquerdo, com um remate a meia altura, após passe de Adrien. O intervalo aparecia e a turma de Alvalade começava a perceber que, com um pouco de cabeça, dificilmente iria deixar fugir os 3 pontos. Mas o jogo nunca deu a sensação de estar finalizado. O Sporting parecia não ter capacidade para isso e o Setúbal apresentava-se esforçado demais para desistir.

Na segunda parte, entrada a papel químico. Um Setúbal forte, empenhado, contrastando com um Sporting desgarrado, ainda a dormir. Aproveitando essa sonolência, Suk faz o golo logo a abrir, com um lance belíssimo. Depois de deixar Ewerton de olhos em bico e Patrício sentado, o sul coreano encostou para o fundo das redes. Festejos exagerados de um avançado talhado para momentos de classe e golos ao Sporting (Já tinha marcado pelo Marítimo, em Alvalade).

Eis que o Sporting se viu obrigado a arregaçar as mangas e a ir à luta. Voltou a descer à Terra e a vestir o fato de macaco. Percebeu o avanço no terreno do Vitória e apostou na profundidade e na velocidade de Carrillo e Mané. Durou pouco o ímpeto Setubalense, uma vez que, pouco depois, após uma zaragata dentro da área, Venâncio e Ewerton desentendem-se e levam amarelos. O segundo para Venâncio e o Vitória acabava reduzido a 10 homens. Um duro golpe nas aspirações da equipa da casa. Três minutos volvidos, nova expulsão. Desta vez Ewerton, com um ridículo e inexplicável segundo amarelo. Jogo de 10 para 10 e espaço a mais, para futebol a menos.

O jogo ressentiu-se e, até final, não mais se alterou. No fim, Marco Silva enalteceu o esforço dos seus jogadores e percebeu que o futebol tem destas coisas: às vezes joga-se bem e não se ganha, outras vezes o jogo é menos conseguido mas a vitória sorri. Mais do que qualidade, a capacidade de saber sofrer, um campeonato é isto mesmo. E o Sporting é um clube que não gosta de (tornar) jogos fáceis.


Tiago Carvalho

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