Sporting - Rio Ave: pólvora seca

Alvalade vestiu-se de verde sob o rosto de Slimani. A noite era de regresso à liderança e de golos. Sabia-se que o Rio Ave era um osso duro...

Alvalade vestiu-se de verde sob o rosto de Slimani. A noite era de regresso à liderança e de golos. Sabia-se que o Rio Ave era um osso duro de roer, mas na mente de cada sportinguista só estava o reinado que lhe pertencia. Quando a bola começou a rolar sentiu-se a ansiedade de uma equipa que não conseguiu chegar ao golo. Uma bela primeira parte, aberta, com lances dignos de golo e com os guarda redes a superiorizarem-se aos adversários, na hora "H". Para a segunda parte, esperava-se o tudo por tudo leonino, uma avalanche ofensiva e um cerco à baliza de Cássio. O Rio Ave perdeu a ousadia que apresentou nos primeiros 45 minutos, mas surpreendentemente, ou talvez não, o Sporting foi inconsequente e incompetente para superar a mestria defensiva dos vilacondenses. Os leões voltaram a cair numa teia que já não é nova e da qual Jorge Jesus parece não conseguir sair.

Foto: Lusa
Quem viu o jogo ficou com a sensação de que o leão esteve de pólvora seca e pode ter problemas daqui para a frente: Slimani perdeu o instinto letal no meio das polémicas, Teo parece um "englishman in New York" e Barcos precisa de tempo, muito tempo, para se entrosar e adquirir a melhor forma. Se Montero cá estivesse...

E o campeonato está ao rubro!


O Sporting partia em segundo, à condição, e pretendia recuperar o lugar cimeiro, provisoriamente pertencente ao velho rival. A equipa apresentou-se com o estreante Coates no centro da defesa, Zegelaar à esquerda e Teo na frente, no apoio a Slimani. Por sua vez o Rio Ave pretendia que Kuca, Kayembe e Yazalde desequilibrassem nas transições ofensivas, a maioria das vezes servidos por Bressan e Tarantini. Na baliza, um Cassio seguro e eficaz, uma muralha presente, como a equipa necessitava. E o empate foi construído nesta base, de rigor táctico e forte sentido posicional, de cabeça fria e inteligência na hora de servir as suas flechas. 

A primeira parte passou entre oportunidades e lances de perigo, de um lado e outro. Na verdade, os golos já batiam à porta de qualquer uma das balizas. Um claro ascendente leonino mas sempre sob alerta. 

Na segunda parte, tudo mudou, excepto o resultado. O Sporting procurou carregar e o Rio Ave permitiu-o. Todavia, o domínio era inconsequente e quando lá conseguia aproximar-se da baliza, Cassio estava no caminho. Como se não bastasse, Slimani falha de baliza escancarada o golo - o Slimani que as bancadas homenagiavam marcava de olhos fechados...

Até ao final o resultado não se modificou. O Sporting correu, lutou mas sempre enrolado na teia vilacondense, com muito coração e pouco discernimento. Faltou arsenal ofensivo, faltaram soluções e capacidade para desbloquear o problema. Um Sporting inconsequente, rendido às suas fraquezas.

Temos um campeonato disputado taco a taco!!!

Positivo: 
  1. A primeira parte do jogo. Duas equipas com olhos postos nas balizas e com a crença de que era possível marcar golo. 
  2. Os guarda redes estiveram sempre em grande plano: Cassio teve mais trabalho mas Patrício esteve sempre lá, quando chamado. 
  3. A maturidade do Rio Ave. Jogou em Braga a meio da semana e soube lutar em Alvalade. Quando as pernas fraquejaram, fechou os caminhos da sua baliza e deixou o Sporting irreconhecível.
  4. Cassio, um guarda redes que tem o encanto dos grandes jogos. Quando começa a defender é um caso sério.
  5. Coates - vai ajudar e muito este Sporting. É forte, alto, bastante poderoso nos lances defensivos e tem capacidade de lançar o ataque sem ser em balões inconsequentes. Não é um portento técnico mas a sua disponibilidade física faz a diferença. E atenção ao uruguaio nos lances ofensivos! Um belo reforço.
Negativo: 
  1. A segunda parte leonina: muito passe inconsequente, muito coração e luta, mas pouca eficiência. Pouca objectividade. Bastantes dificuldades em usar a cabeça e penetrar no espaço vazio. Não houve abre latas e teve fortes problemas em ligar a defesa ao ataque.
  2. Vários jogadores do Sporting: Zegelaar escondeu-se no conforto do toque para o lado. Não conseguiu ganhar a linha e poucos ou nenhuns foram os seus cruzamentos. William foi uma vez mais uma peça em falta num puzzle complexo. Lento, displicente e com muitos passes falhados. Ruiz estoirou cedo e faltou-lhe garra. Slimani falhou o que não costuma falhar... Teo parece ausente do mundo.

Por fim, e o mais negativo de tudo: Teo Gutierrez e Barcos, ou seja, a aposta de Inverno para o ataque aos golos. Teo esteve ausente, por entre férias e lesões. Está ausente do jogo e quando aparece pouco dá. Depois, Barcos, lançado às feras na tentativa de conseguir fazer algo que ajudasse a desbloquear. Ficou a clara ideia de que precisa de muito tempo até conseguir ser verdadeiramente um reforço. Ora, no mercado de inverno, não teriam de ir buscar alguém disposto a entrar e ajudar no imediato? (Tipo Coates) Sentiu-se a falta de Montero, o pequeno franzino que sabe abrir espaços e descobrir soluções. Só o futuro irá dizer o quão fatídica, ou não, pode ter sido esta tomada de decisão.


Tiago Carvalho

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