Sexta feira à noite e a Luz vestia-se de gala para o Clássico. Os encarnados procuravam ganhar e deixar o Porto para trás, com mazelas irreversíveis para o resto da época. O Porto pretendia lutar pelo resultado, muito empenho e a coragem necessária para enfrentar o que desse e viesse. No fim, um resultado algo inesperado, cimentado por eficácia e personalidade. Um carácter enorme dos azuis e brancos, que souberam aproveitar o que retiraram do jogo. O Benfica lamentou o desperdício e viu em Casillas um muro enorme e praticamente intransponível. O campeonato está ao rubro e se o Porto esteve com um pé de fora, agora está com os dois dentro!
Foto: Lusa |
Quando a bola começou a rolar o ambiente explodiu: cartolinas, apupos, sentimentos e ressentimentos que levavam a que o Clássico fosse quentinho e intenso. No meio daquele Big Bang emocional, o Porto entrava destinado a marcar presença. Um acto de afirmação de quem sabia que o favoritismo lhe passava ao lado. Mas era uma questão de tempo até o Benfica acelerar e o Porto respeitar o adversário. E com esse respeito foi-se perdendo a bola, o protagonismo e metros, alguns metros. Por seu lado o Benfica ficou mais forte, rápido nas transições e procurou apontar a mira à baliza adversária.
Aos 13 minutos de jogo a primeira grande ocasião para os encarnados: Pizzi, solto, remate para defesa fácil de Casillas e na recarga o remate sai muito perto do poste! A partir daí sucederam-se mais uns quantos lances de maior frisson, até que aparece Mitrogolo, servido por um belo passe de Renato Sanches e beneficiando de uma desatenção primária da linha defensiva portista. A Luz rebentava de emoção e o frágil Porto via o inferno descer à terra.
O Benfica sentia-se mais confiante no jogo mas tinha um problema claro: o desequilibrio defensivo na sua ala direita, que permitia que Brahimi tivesse espaço, tempo e bola, deixando André Almeida totalmente desamparado. Foi precisamente desse lado que Layun serviu Herrera e o compatriota mexicano concluiu, aos 27 minutos, através de um remate colocadíssimo. Julio Cesar batido e o Porto não perdoava tanto espaço concedido. O empate parecia ser um sinal divino para o Porto voltar ao jogo.
Mas o Benfica, motivado e confiante, procurou a resposta imediata: Jonas, num rodopio quase perfeito, viu Casillas, em voo, negar-lhe o golo. O espanhol começava a assumir-se como uma barreira difícil de ultrapassar. De seguida foi Mitroglou que, de baliza completamente escancarada, atira ao lado, de raspão! Um falhanço de bradar aos céus. Até ao final da primeira parte destaque para um quase auto golo de Corona e umas quantas descidas portistas sempre à procura de Brahimi e do lado defensivo de André Almeida. O apoio defensivo encarnado parecia chegar tarde e descompensado.
Ao intervalo o empate a uma bola premiava o Porto e penalizava um Benfica perdulário e defensivamente imperfeito. Mas o jogo estava em aberto e com um ritmo muito interessante, digno de um grande jogo.
A segunda parte começa e traz a emoção e um herói: San Iker. O espanhol, que regressava ao palco em que tinha levantado a La decima pelo "seu" Real Madrid, parou o possível e o que parecia impossível. Aos 52 minutos de jogo Gaitan, com uma ocasião flagrante, no frente a frente com o guardião espanhol, viu ser-lhe negada a festa do golo por uma defesa GIGANTE! Depois tratou-se de Jonas cabecear a rasar a barra. O segundo tempo arrancava com o Benfica a tentar chegar ao golo e o Porto a tentar acalmar um empolgado rival.
E aos poucos o Porto foi conseguindo chegar mais à frente e incomodar Julio Cesar. Primeiro foi o inevitável Brahimi e depois Aboubakar, com um remate extraordinário que passou muito perto do poste. Mas poucos minutos depois, aos 65, o possante avançado camaronês, no seguimento de uma grande jogada dos azuis, isolou-se e na cara de Julio Cesar não perdoou. Um balde de água fria na Luz e o Porto dava a cambalhota no marcador, perante a passividade de Jardel.
A partir daqui, Casillas! Martins Indi "tentou" traí-lo mas a noite era do Espanhol. Uma reacção fantástica e uma palmada na bola para a defesa que qualquer fotógrafo deseja. O Benfica começava a sentir o peso do jogo e do resultado, o peso da contrariedade. O Porto começava a sentir que podia mesmo ganhar aquele jogo. Cada vez mais. Até final destaque para mais uma defesa de Casillas, num falhanço de Mitroglou, e uma displicência dos dragões no cara a cara com Julio Cesar, perto do final. O resultado não se alterou até ao fim e os dragões vieram mesmo a Lisboa roubar os 3 pontos!
Resumidamente, Casillas foi a pedra basilar da vitória. Não marcou qualquer golo mas negou-os a pontapés! De voo em voo, de reflexo a reflexo, manteve o Porto em jogo, segurou-o e fê-lo acreditar. O resto foi a força anímica de um clube que acarreta vitórias no seu ADN. A sorte também foi azul, contrastando com a ineficácia que, ao contrário do histórico recente, pertenceu aos encarnados.
Rui Vitória perdeu a oportunidade de se afastar do Porto, deixando-o bem para trás, e voltou a provar o amargo sabor da derrota, uns belos jogos depois, novamente em clássicos, contra os seus principais rivais. Peseiro afastou o fantasma da Luz (célebre jogo na Luz, ainda pelo Sporting) e mostrou que a sua equipa tem carácter para, de afastado, passar a candidato. Não é para todos. O Porto está melhor e em jogo!
Positivo:
- A abordagem ao jogo das duas equipas. Sentiu-se que não havia receios de perder, apenas vontade de se imporem e jogarem futebol.
- Rui Vitória e José Peseiro jogaram com Lindelof e Chidozie, dois jovens pouco experientes nestas andanças. Erros todos cometem, mas exibições tão positivas poucos fazem. Estes miúdos parecem ter imenso talento.
- José Peseiro na leitura Pré-jogo e durante o Jogo: Apostou no miúdo a central e manteve Danilo no meio. Ganhou o jogo ali. Depois, a maneira como mexeu: de forma cirúrgica e com leituras correctas, mantendo a equipa compacta.
- Danilo! Este miúdo está a fazer uma época incrível e a solidez do Porto passa por aquilo que ele dá. Um pulmão enorme, uma entrega fantástica e um sentido posicional acima da média. Depois o desarme a força, como cabeça de cartaz.
- Salvio e o seu regresso à competição. Não interessa se foi feliz ou não, o que interessa é que 2 operações e tanto tempo depois, o argentino está de volta!
- SAN IKER CASILLAS. Foi durante anos a fio o melhor da Europa e um dos melhores do mundo. E quando questionado pela sua irregularidade e falta de força psicológica, reagiu em força, num jogo dificílimo! A sua exibição foi um hino!
Negativo:
- O desperdício encarnado. Falharam golos atrás de golos e alguns deles desplicentes: Mitroglou tem dois falhanços imperdoáveis.
- A descompensação defensiva do Benfica. O lado direito foi mal apoiado e o Porto aproveitou
- O miolo do Benfica não foi lesto. Samaris e Renato não conseguiram proteger a sua baliza nas acções defensivas como seria devido. Herrera foi aproveitando o espaço e chegou mesmo a marcar.
- As substituições de Rui Vitória não foram felizes. Partiram a equipa e deram ao Porto razões para crescer.
- A entrada de Salvio, há tanto tempo parado, é de facto uma precipitação. Ainda assim foi bonito voltar a ver o argentino.
- A 4ª derrota encarnada com os rivais. Em jogos a doer, com os concorrentes directos, o Benfica perde uma Supertaça, um jogo no Dragão e dois em casa, contra Sporting e Porto. Pelo meio foi afastado da Taça de Portugal em Alvalade. É preocupante mas não decisivo: há muitos jogos ainda pela frente.
Tiago Carvalho
Nuno Reis
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