Bilbau é um pedaço de história. O País Basco trava uma luta de vários anos (nasceu nos fins do século XIX) contra Espanha e a unidade do país. Consideram-se diferentes, especiais. São bascos, acima de tudo. E fazem questão de que todo o país perceba. No futebol, não são excepção. O Athletic de Bilbau é diferente, tem uma mentalidade distinta e regras próprias. Quem pode jogar no seu clube? Bascos. Aquela camisola representa os ideais da região, logo, não é para um qualquer.

Por esta altura um mar vermelho sai às ruas. O Athletic ganhou a Supercopa de um país e rei que não é visto como o deles. Uma vitória enorme frente ao Barcelona, da Catalunha (!), e uma vitória de todo o País Basco. Um regresso aos títulos e um orgulho muito particular. Passaram-se 31 anos, mas a glória está de volta!

Aritz Aduriz, o herói do clube e autor de 4 dos 5 golos marcados ao Barça, afirmou viver um sonho

 "É uma satisfação incrível ganhar um título com o Athletic. Para mim, é o máximo que podemos sonhar. O dia mais feliz da minha vida foi o nascimento da minha filha, mas fora isso, é o dia mais feliz"

Há clubes assim, diferentes, alicerçados em pessoas especiais. O Athetic é um deles, um dos rostos mais emblemáticos desta grande paixão a que chamamos futebol. Quando falamos de Athletic de Bilbao não falamos de títulos, triunfos categóricos e de hegemonia. Falamos sim de estádios cheios, batalhas épicas e superações. Falamos de vontade, ideologia e união. Tudo em prol do mesmo, uma vez que algo os une: as raízes. São todos bascos ou de origem basca. Podem ser de um outro lado de Espanha, mexicanos, brasileiros, franceses ou até venezuelanos. Desde que tenham sangue basco ainda nas veias, serão bem-vindos. Têm de se identificar com essa ideologia nacionalista. Pode falar castelhano, viver na mesma Espanha e jogar na mesma Liga. mas se não tiver origens Bascas, é forasteiro e não tem espaço no clube. É provavelmente uma das mais elitistas camisas do futebol. Não é para quem quer, é para quem pode.

E a mística passa de geração para geração. Há jogadores que começam e acabam no clube. Há craques que partem tarde e outros voltam. Todos amam as cores e a terra. Todos tornam os leões temíveis e respeitados. E assim se cresce sem múltiplas conquistas, assim se impõem sem grandes vitórias.

Antes de começar a falar da história do clube de Bilbao, de referir que a Real Sociedad também é basca e é o velho rival. Mas o Athletic sempre soube demarcar-se dos velhos rivais, E desengane-se quem pensa que, por ser um clube diferente e pouco ganhador, não tem palmarés. Ora vejamos:

A glória faz parte do emblema Basco. O passado é o peso das camisolas que carregam e honram. E pelos seus quadros passaram jogadores de topo do futebol, como Aitor Karanka ex Real Madrid, Alkorta, Julio Salinas, Goikotxea, Julio Salinas e Zubizarreta, ex Barcelona. Llorente, da Juventus, e Javi Martinez, do Bayern de Munique, são outros dos grandes jogadores que viveram e suaram o clube. Mas há mais, como Ezquerro, Del Horno, Urzaiz e Etxeberria, jogadores de requinte que embelezam para sempre o quadro de lendas do Athletic.

Posto isto, percebemos que quando o Athletic joga é Bilbau que entra em campo. É uma região nacionalista, recheada de cultura própria e personalidade vincada. 31 anos depois, a cidade festeja o regresso aos títulos do Atlético local. Um mar vermelho louco por mostrar a paixão e a vitalidade daquilo que, parafraseando alguns, é muito mais do que um clube.

Bilbau é especial e o futebol reconhece todo o seu esplendor.

Tiago Carvalho