Supertaça: Um golo, duas equipas antagónicas e o Jorge Jesus de sempre.

Foi um derbie típico de início de época, com pouco discernimento, algumas falhas na tomada de decisão e muito cansaço, quer físico, quer me...

Foi um derbie típico de início de época, com pouco discernimento, algumas falhas na tomada de decisão e muito cansaço, quer físico, quer mental. Mas dentro e fora de campo, o fervor do jogo estava lá. Os corações batiam mais forte e a elevada temperatura algarvia subia de forma descomunal, dentro das 4 linhas.

Foto: LUSA

O Sporting Clube de Portugal entrou com vontade, com ideias claras e processos assimilados. Ainda não executa nem se movimenta de forma perfeita, mas já esboça o muito bom. O Sporting sabe o que quer, o que tem de fazer e como fazê-lo. Sabe que é o Sporting e parte para cima do adversário, seja ele quem for. Há muito que não se via um Sporting tão audaz e determinado. Jogam desde o primeiro minuto, sem dar a primeira parte de avanço ao adversário. Jesus tem razões para estar contente. Os jogadores assimilaram as suas ideias e o treinador vê a equipa executá-las a um ritmo muito aceitável.

O Sport Lisboa e Benfica mexeu (e muito!) no onze. Luisão estava lesionado (e que falta faz este velho capitão) e Carcela não podia contribuir, por problemas físicos. Consequentemente, Lisandro López e Ola John saltaram para o 11. Depois, Eliseu, André Almeida e Pizzi sentaram. Pura opção de Rui Vitória. O menino Nelson Semedo assumiu a lateral direita (onde Ola John nem sempre lhe deu o apoio defensivo necessário), Silvio jogou à esquerda e Pizzi ficou de fora em detrimento de um meio campo mais musculado e defensivo, reforçado por Samaris e Fejsa.  Foram muitas as alterações numa equipa que ainda procura o seu estado de graça - 3 deles nos 4 da defesa. Um Benfica algo receoso, ainda que se  reconheça réstia de personalidade. 

O resultado é justo. O golo acaba por ser o resultado de um momento de sorte, premiando a equipa que mais o procurou. O jogo espelha o diferente momento das duas equipas, as diferentes formas de abordar o plantel e o espelho dos seus treinadores:

O Sporting começa a jogar a sério mais cedo, com a Liga dos Campeões a aproximar-se e a importância de ter um plantel praticamente completo e ideias consolidadas. Jorge Jesus foi contratado muito pela sua filosofia de jogo, atraente e ousada. O plantel permaneceu praticamente o mesmo (saiu Cédric e Nani), mas com alguns reforços cirúrgicos. Jesus sabia o que queria e quem queria. O calendário exigia prontidão e a materialização da ideia do seu treinador foi um processo rápido e muito interessante.

Por seu lado, o Benfica vendeu, mexeu e perdeu um pouco da sua identidade - Jorge Jesus é o exemplo maior. Era inevitável não o dizer. O Benfica comprou numa visão de futuro e oportunidade, mas não de verdadeiro reforço, no imediato (Ederson, Marçal, Diego Lopes e Bilal são alguns exemplos). Taarabt, Carcela e Mitroglou ainda procuram adaptar-se à realidade encarnada e só o tempo lhes trará oportunidades e a melhor condição física. Os encarnados começaram a atacar o mercado tardiamente, depois de perceber que as soluções que têm ao seu dispor são de qualidade mas curtas, não dando grande profundidade e margem de manobra para atacar o sucesso em várias frentes.

Rui Vitória está a adaptar-se a uma realidade diferente. Chegou agora a um grande e o Benfica é grande demais para perder tempo. Cedeu ao ego de Jesus e abordou o jogo com muitas mexidas e uma abordagem diferente ao que costumava ser o Benfica. Tirou-lhe acutilância, ímpeto e personalidade, enquanto lhe tentava dar consistência e solidez. Pizzi fez muita falta e Jonas sentiu saudades de Lima. As laterais sofreram. O miúdo até pareceu o lateral mais experiente, quando comparado com Sílvio...

No fundo, a abordagem ao defeso revelou-se um prenúncio acertado: Para o Sporting, a época já começou e à séria. Para o Benfica, ainda está para começar.

Depois há a figura de Jesus. O ser genuíno, do qual não se pode esperar milagres comportamentais. Será sempre um treinador fantástico e uma pessoa (no mínimo) conflituosa. Não importa as cores que veste ou o emblema que representa. Jesus tem carisma, arrogância e personalidade forte. Gosta de confrontos, de pequenas e grandes guerrilhas. Gosta de pressão. Jesus é de chegar e mandar, Rui Vitória é do politicamente correcto e acomodado. Rui gosta de estar de bem com todos e fazer o seu trabalho. Mas também deve saber que agora está no Benfica, e o Benfica não tem tempo para esperar que o seu treinador se descubra.


As surpresas:

Nelson Semedo: Foi lançado às feras. Esta decisão tem tanto de perigosa quanto corajosa. É assim que se queimam miúdos, mas também é assim que aparecem os jogadores e que se agarram as oportunidades. Diria mais, é assim que se fazem homens. Nelson não foi brilhante, mas ninguém dos encarnados foi. Como disse, ao lado de Sílvio, pareceu o adulto. Parece jogador (já o tinha parecido na Pré-época) e é a prova de que as boas soluções (e baratas) às vezes estão onde menos querem (os homens dos negócios). Mas calma, dêem-lhe o tempo e confiança que merece.

João Mário: Durante a semana, Aquilani chegou com toda a classe que o seu passado carrega. Um jogador feito, fino, táctica e tecnicamente acima da média. No jogo seguinte, o "pequeno" João Mário tem a oportunidade de responder e enche o campo. A agressividade que tantas vezes lhe falta, foi esquecida. Jogou, fez jogar, escondeu a bola, entregou-a, geriu os ritmos do jogo e fez-se dono da bola. Um jogão do menino que já parece um senhor. A ver vamos se está para ficar. A regularidade é fundamental para conquistar e consolidar estatuto. 

P.S - a época já começou, e o Sporting começa como acabou a passada: a ganhar!


Tiago Carvalho.

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